quinta-feira

Brand new start

"Saiba, o caminho é o fim, mais que chegar" (Little Joy, tal como o título).
Sem me entristecer, digo que o blog amores-requentados chegou ao fim. Deixei aqui registrado cada oportunidade boa de viver, de sentir e até de sofrer. Amar é isso. Requentar os amores é vivê-los sempre, contá-los sempre. E sei que não deixarei de fazer isso, de contar dos amores, de reviver e rever os amores. Mas o amores-requentados hoje diz adeus.


sábado

Chuva

Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz.
(Tom Jobim)


O furacão parece girar, girar e não encontra forças para parar. Sinto-me fechada para reformas, fazem bagunça, arrastam as cadeiras e chove, chove muito. Achei Deus de uma pertinência imensa quando, hoje de manhã, abri minhas janelas e vi que o dia de sol ontem tinha se feito em nuvens e neblina. O sol era, talvez, do tamanho de uma bola de bilhar escondido, escondido em mim também. Uma nuvem de chuva se instalou um pouco sobre mim. Acho que eu queria me esconder tanto quanto o sol e deixar doer e poder chorar sozinha e poder sentir sozinha uma dor que parece nunca mais passar. É preciso aceitar que as flores, então, nascem para depois ir embora. A gente cultiva enquanto pode e depois que elas se vão não se pode fazer nada. Eu choro, eu choro porque sinto saudade, sinto um vazio que não sei se vão conseguir encher de terra. A flor se foi e deixou um buraco no chão. Deixou nuvens cheias de chuva nos meus olhos que ardem, ardem porque não sabem mais chover. Levaram com raiz e tudo e no fim sobrou o chão. Eu, chão, não posso ser egoísta e prender a minha flor quando ela precisa ir. Não posso. Engulo meu egoísmo, engulo minhas lágrimas. Eu não fui um chão ruim, mas às vezes fui cimento ao invés de terra. Minha paciência se esgotava rápido, eu fiz o que pude mas não fiz o máximo. Eu queria ter tido mais tempo, eu queria poder ter abraçado ao menos uma vez. Eu nunca abracei a minha flor. E ela foi embora levando toda a vontade de, talvez, abraçar os outros. Deixou só esse vazio que vão cuidar de tapar, eu sei que vão. O tempo, as pessoas e eu mesma, quem sabe. E vai sarar, eu sei que vai. E vai parar de doer, mas não sei quando, se é que o quando existe. Até minhas palavras falam qualquer coisa que, de tão, não sei sentir.





Para a minha avó, que me deixou ontem.

quarta-feira

Mundaréu de estrelas

Fé na vida, hermana, fé no que virá.
(Ana Jácomo)

Eu sinto sua falta. Aqui, ali, hoje e ontem. Nossa amizade me fez ver tanta coisa boa, tanta coisa bela. Sinto falta de ouvir um "Amiga, não se ilude", ou de cantar qualquer música usando uma garrafa qualquer de uma bebida qualquer. Eu sinto falta de poder te ligar: "Oi Mandy, não tenho nada de muito bom pra contar" e os assuntos surgiam e por aí iam mais ou menos uma hora de telefonemas. Eu não sei muito bem o que eu quero te dizer, porque eu não queria precisar escrever nada: eu queria estar aí, poder te ligar, subir aí na sua casa que é tão longe da minha. Na verdade, eu estou aí, de tanto que quero estar. E te desejo toda a paz, toda a vida, toda a luz, tudo. Todo o amor, toda a vontade de viver, de querer estar bem. E que, por mais que venham alguns problemas, que você não desista nunca. Não desista de sonhar. E "quero que haja sempre uma cerveja em sua mão e que esteja ao seu lado seu grande amor".
Feliz aniversário.

(e, não se esqueça de dois pontos por demais importantes: "nenhuma folha de árvore cai se não for da vontade de Deus" e o quanto nossa amizade é valiosa pra gente porque mesmo que mude, nada há de mudar).
[título extraído do texto: Com fios de amor]





terça-feira

Demasiadamente

Dear,
se quiser procurar: não precisa. Cá está seu texto. Sem nomes, sem dores antigas, sem sentimentos intensos. Sou eu: eu. Com pressa, com provas, com vida. Sou eu. Mas você conhece bem, você sabe como é. Você sabe cada pedra que eu temo e sempre temi pisar. Você sabe de tudo e, se isso fosse um jogo - se me permite a comparação - eu não poderia blefar. Simplesmente por não saber fazê-lo. Ou por não conseguir.
Eu estou aqui, vivendo estudado me apaixonando e sentindo, e veja só como são as coisas: mesmo com essa memória fraca consigo me lembrar. E comento com algumas pessoas: "três anos, amor adolescente pra lá de insistente, né?!" E as pessoas comentam: "você é boba, contando dias, lembrando datas". É, sou boba. Marco encontros anuais com a minha memória, com o baú das coisas boas que sobraram do que passou. E passou. E passa: eu fico. E fiquei em todas as outras vezes, e deixei todas as outras pessoas irem embora como você continua indo, mas não vai. Sempre se lembra de olhar para trás, principalmente em dias como hoje. "Esqueceu amarrada a canoa na beirada", não adianta tanto remar. A memória tem um compromisso conosco. O de nos fazer rever mesmo quando desejamos com veemência seguir. Mas eu não olho hoje com aquele quê de nostalgia, de dor por ter se passado, por ter deixado que pessoas como você partissem. Não dói. A memória, em especial neste ano, fez aparecer coisas especiais que me fizeram ter felicidade em pensar que vivi coisas tão boas e que você foi igualmente bom para mim. Não seria o que sou hoje, sempre digo. Não quero que reviver nada, não desejo que você me ame como já me amou, porque a vida, afinal, precisa passar, as horas do relógio, dear, não esperam por ninguém, nem por nós (épicos heróicos românticos, diria Caio Fernando Abreu). Não desejo nada. Mas sei que sinto um carinho muito bom por você, pelo dia de hoje, pelas cartas na pasta, pelos pinguins, pela minha memória fiel e por mim.
Até ano que vem,
Assinado: eu (como na música da Tiê)

domingo

"Quanto setembro vier

de tão azul o céu parecerá pintado". Havia festa em algum lugar hoje, sei disso. Algumas pessoas escrevendo e sonhando e vivendo amores não realizados e realizados - por que não? - e esperando as cartas os telefonemas os gestos as decisões. O mundo corria normalmente - como sempre faz - e as pessoas viviam como sempre viviam. Ou não. Mas alguém notou o céu. De tão azul, parecia que alguém teria derramado um balde de tinta. Acho que algumas pessoas pararam hoje para olhar o céu. Eu tive ciúmes: o céu era tão teu que o queria só pra mim. Tive ciúmes dos tantos que liam algum conto teu, alguma coisa escrita com beleza, porque eu não parei um segundo. Mas olhei para o céu. E pensei: "Caio foi esperto, derramou foi tinta no céu todo". Pensei em você em alguns momentos do dia, pensei em você com força e carinho.

Onde quer que esteja - parece pretensão demais, eu sei - deve ter notado. Uma amiga me disse que quando a gente pensa com força em alguém, esse alguém sente. Pode sentir?

No céu, existiu uma festa hoje. Derrubaram tinta no chão do céu.

E, um último pedido: que seja doce aí. Por aqui vai tudo bem.




Para Caio Fernando Abreu.
Com carinho.

quarta-feira

Enquanto isso

Uma amiga me disse agora que "a gente não deve ser menor que nossos sonhos". Acho que meus olhos, se os dias fossem outros, se encheriam de lágrimas. Se os tempos fossem outros. As coisas mudaram muito e eu já estou me acostumando a ter um sorriso no rosto mesmo depois daquela noite que não dormi bem, ou num dia de coração bagunçado.
Não tenho muito tempo de escrever mais. Acho que tempo até tenho. Não tenho são as palavras.
E não quero ser menor que meus sonhos. Mesmo que eu não saiba quais são.


Setembro é um mês em que, já diria uma música: "Portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar". Eu espero, sentada no tapete da sala.

Sem você sou pá furada.

Querido Leonardo,
Hoje foi um dia todo atípico, todo estranho. Os dias aqui não são os mais normais, sei disso, mas hoje foi ainda mais diferente. O dia estava lindo, lindíssimo. Nem consigo me lembrar ao certo tudo o que houve, mas sei que foi um dia lindo. Como o dia em que levava seu disco do Queen e, no caminho, notei quão grande era a beleza das coisas. É difícil notar isso, é sempre tanta correria que eu sei lá. Mas o estranho do dia é que não posso te abraçar, bem forte, nem dizer o quanto te desejo tudo de melhor do mundo. E te desejo, mesmo que não diga. Nem estou perto suficiente para me incomodar por você parecer não dar a mínima para uma série de coisas que eu sinto e só agora te digo: às vezes você não liga mesmo, não dá a mínima. Mas eu não me importo tanto e, se me importo, passa logo. Eu queria dizer qualquer coisa bonita, mas o necessário é que você saiba a vontade imensa que estou de te abraçar forte, e receber teu abraço também. Você deve achar tudo isso piegas, não é? Pode achar. Sei que não te acompanho sempre e sei que fico tempos sem aparecer e, quando apareço, nem apareço mesmo, nem pareço a mesma. Eu sei de tudo, Léo. Nosso contato se perdeu muito nos últimos dias e eu não consigo manter uma conversa mais cheia de bobagens no msn com você, como antes. Mas eu sei que não foi intencional, e que não é. Nós dois nutrimos um apreço grandíssimo por essa amizade de anos, tenho certeza. Você é o meu melhor amigo e sempre vai ser, mesmo que a gente nunca mais se fale e que nos distanciemos a tal ponto que sejamos incapazes de saber como foi o dia do outro. Você sempre vai ser meu melhor amigo porque, simplesmente, sem você não dá muito pra ser. Porque, sem você, "sou pá furada" (e essa é nossa frase, não é? Desde 2007), e pá furada não serve de nada. Você está aqui comigo, todo o tempo. Eu estou aí com você também, todo o tempo. Eu não vou te abandonar, Leozinho, por nada. Eu posso ficar décadas sem te ver, mas sei que te reconheceria em qualquer lugar (e não digo apenas pelos cabelos ruivos ou senso de humor peculiar), reconheceria porque não há ninguém no mundo igual a você.
Com tudo isso, eu só queria mesmo dizer que seu aniversário abre o meu mês favorito. E que eu desejo para você qualquer coisa que você também deseje muito. Feliz aniversário.
Com (muito) carinho,

Maria Carolina.

contato (i)mediato

Caro senhor,
Peço, desde o início, que compreendas o quão inábil sou com as palavras. Não as tenho em meu domínio, na verdade, creio até ser o contrário.
Peço, também, que perdoe minha intromissão, pois sei que não querias se revelar. Mas é preciso dizer, sim, é preciso dizer.
Há anos acumulo uma bagagem emocional pra lá de bagunçada. Choros pra cá, sorrisos pra lá, amores retribuídos ou platonites agudas. Dito assim parece até haver equilíbrio, mas não há, nem houve. Essa bagagem é inflada de cartas, e eu sou demasiadamente apaixonada por elas, cartas são meus objetos de lembrança, parecem ter cheiro - cor - vida própria. As tuas, por sinal, guardo dentro duma caneca branca, caneca nunca usada para um café no meio da tarde. Caneca: só caneca. Entretanto, mais que um café e gotas de adoçante, esta vem sendo capaz de comportar cada pedaço bem cuidado de entrelinhas. Noto a caneca agora: parece ter cheiro - cor - vida própria também.
O objetivo maior deste bilhetinho, caríssimo, é saber por onde andam ou andaram teus pés descalços e porque decidiram colidir com os meus sem que sentíssemos. Sem que pudéssemos nos ver, sem que pudéssemos saber quem somos. Você gosta das minhas palavras, porque, mesmo sem freios, parecem ser o que há de melhor em mim.

Mas são?

Não aguardo respostas.
Não espero notícias.

Com carinho,
Ana.

terça-feira

Qualquer coisa

Qualquer
Traço, linha, ponto de fuga
Um buraco de agulha ou de telha
Onde chova.

Qualquer pedra, passo, perna, braço
Parte de um pedaço que se mova.

Qualquer

Qualquer
Fresta, furo, vão de muro
Fenda, boca onde não se caiba.
Qualquer vento, nuvem, flor que se imagine além de onde o céu acaba
Qualquer carne, alcatre, quilo, aquilo sim e por que não?
Qualquer migalha, lasca, naco, grão molécula de pão

Qualquer
Qualquer dobra, nesga, rasgo, risco
Onde a prega, a ruga, o vinco da pele
Apareça

Qualquer
Lapso, abalo, curto-circuito
Qualquer susto que não se mereça
Qualquer curva de qualquer destino que desfaça o curso de qualquer certeza

Qualquer coisa
Qualquer coisa que não fique ilesa
Qualquer coisa
Qualquer coisa que não fixe.

Arnaldo Antunes.

Outros quinhentos

Pequena reflexão dos fatos igualmente pequenos. Eu diria, também, que não tem lá grande importância... o problema é que elas têm.
Querido,
Eu bem sei que não sei manter uma conversa séria, sem me desesperar e chorar alguns desperdícios, eu sei que os cacos estão bem espalhados e que os caminhos estão livres, e sei também o quanto insisto em pisar nos cacos. E quem leva a culpa, coitada, é a minha visão, que não trabalha muito bem e eu ainda forço para que ela trabalhe mais do que deveria, enquanto gasto horas escrevendo cartas tão bobas feito essa ao invés de me dedicar arduamente aos deveres de biologia. O problema é que eu não gosto de biologia. E, segundo minha teoria, minha visão se tornaria um problema ainda maior se eu lesse, de fio a pavio, o livro de 500 páginas de biologia. Infelizmente não se faz só o que se quer, portanto, logo após me cansar de te dizer essas bobagens e jantar, vou concentrar meus esforços da visão nas letras negras e desenhos coloridos do livro de biologia. Estou me dedicando tanto a uma causa que não amo por uma questão de honra. Não que isso valha a pena em todos os casos, mas neste vale. Biologia nunca foi minha matéria favorita, e talvez nunca será, mas eu copio cada sílaba que a professora fala para não me perder. Quem dera eu pudesse viver só de cartas assim, não é?! Dispensando a biologia, os cálculos. Viver das palavras, mas palavras não são coisas para se viver. São coisas para se amar. E dedico algum tempo para viver de amor. Amor às palavras. É uma pena que você pense que vivo para te escrever, para te endereçar correspondências. Voltando ao assunto principal que eu nem me lembro qual era.

Esta carta está ficando longa e chata? Tudo bem. Pode parar por aqui, se quiser. Não contei da missa um terço e estou me livrando de uma triste (miúda) que acabava de tentar se instalar na minha bela quase noite de terça-feira.

Amanhã é quarta - feira. Se bem que eu acho todos os dias bem parecidos. Se bem que amanhã não tem aula de inglês como nos outros dias. E eu poderia achar mais um milhão e meio de diferenças nos dias, o rosto de alguém, uma espinha nova no meu rosto, mais uma blusa de uniforme sobre a cadeira, ciclos de humor, aulas... mas não cabe agora dizer cada uma delas. Esse nem é o assunto principal. Mas, me diga, qual é mesmo o assunto principal?
Eu acho que te escrevo agora para me animar. Sem palavras ricas, sem grandes reverências, sem nada de muito criativo. Só o meu amor pelas palavras. E meu sutil grito de, talvez, socorro. Eu estou um pouco cansada e, às vezes, sinto o peso do mundo nas minhas costas. Sabe, eu sinto saudades de quando as horas eram longas porque as preocupações eram, de fato, pequenas: "ai, qual roupa colocarei nas minhas bonecas hoje?" ou, mais tarde "amiga, não sei que roupa vou àquela festa". Não tenho 30 anos, e sei que, quando lá chegar, acharei tudo isso muito babaca, porque terei filhos, trabalho, marido, cachorros, e um mundo inteiro se abrindo para mim. Oportunidades de trabalho, colégio para os filhos, arrumar a gravata do marido, dar ração aos cachorros e, o pior, encontrar tempo pra tudo isso. Soaria babaca mesmo dizer, depois de tudo, que aos dezesseis anos eu estudei num colégio interno, longe de casa, dos meus pais e da vida que eu tinha. Soaria ainda mais babaca se eu dissesse: "ai, não sei o que fazer. Sinto uma dor estúpida no coração porque não sei decidir". Seja como for, quero estar ainda um pouco distante dos trinta, porque esses problemas já me são grandes o suficiente, obrigada.

O dia estava lindo hoje. A noite parece ainda mais linda.

Não quero privar minha visão de nada. Quero viver quantos anos puder - tantos quanto a minha bisavó, que se aproxima dos 100 em grande estilo - para ver todos os sóis, as fases da lua, o homem ir e voltar do espaço. Mas de que isso te importa, não é? Nada disso deve te importar. Tudo bem. Esses dias lindos me fazem bem, sim. Mas não posso negar que fico um pouco triste. Não sei por que. É essa carência afetiva, esse copo cheio até o meio. Meio cheio-meio vazio-meio-cheio-de-vazio. E me dói, no fundo da carne. O amor precisa sempre, em mim, ser o centro das atenções. Acho que, exatamente por isso, muitas coisas me despertam o amor: seja uma flor, uma fotografia, umas cartas, umas pessoas e um rapaz que se parecia com o Bob Dylan antes de cortar o cabelo. Umas pessoas que foram, umas saudades de ontem. Ontens. Ontem que não o dia que antecedeu hoje, mas todos os milhares de dias que antecederam o hoje. A saudade, como o amor, parece nunca se calar. E peço para que ambos não se calem, e nem durmam: mas que gritem muito, que façam a farra em mim. Afinal, procurei por dias a minha composição, e na essência, sou feita disso. Se eles adormecerem, talvez eu adormeça também. Mas no meu coração jovem, na minha alma jovem (ou nem tanto), eles ardem como deveriam. Pois, é como eu disse, desejo viver 100 anos. Ou mais. Nunca menos. 100 anos é a minha meta: e de cabelos grisalhos, com sapatinhos vermelhos e uma casa toda bonitinha. E, se possível, um bocado de crianças me chamando de 'vó, até os que não forem meus netos.

A que se destina essa carta? Não sei. Talvez a deixar o dia ainda melhor. Esvaziar a alma de coisas que pesaram.
Ou talvez nem se destine a nada.

Não tem estrelas no céu. Pode ser que chova.

domingo

Tá fazendo frio nesse lugar.

Talvez até eu já vivesse
em algum corpo emprestado
Esperando só por você
pra reunir meus pedaços

Foi tanta força que eu fiz por nada,
(...)
Só pra você eu me poupei

Será que o tempo sempre disfarça,
Tomara um dia isso tudo passa
Desculpa as mágoas que eu deixei

(...)

enquanto eu me retiro
Só você sentiu por mim
o que nem eu sentiria
Você foi o meu escudo
e eu a própria covardia

Se você ainda acreditar,
eu prometo (...)
Te proteger,
te poupar das dores,
Te devolver o amor em dobro
Não se ama, amor, em vão

(Doublé de Corpo - Leoni)

sábado

Mais uma vez

Entre confissões cada vez mais nervosas, entre uma unha roída e outra, entre os dedos batendo forte nas teclas de um computador. Entre cada dia nem vivido quanto deveria, entre cada abraço demorado - pois que tinha gosto de partida - entre mãos vazias de outras mãos. Todo mundo, um dia, vai-se embora. Todo mundo, um dia, deixa a vida que tinha e vai-se embora buscar os sonhos que teve. Eu só sonho nas noites em que durmo cansada. O sonho é uma amostra, uma miragem daquilo que tanto queremos. Ou nem queremos. Eu nem sei o que o sonho significa de fato, eu imagino tanto e escrevo. Escrevo porque minha cabeça não dorme se tantos pensamentos, miragens, imagens e imaginações não forem para outro lugar. Escrever é castigar o papel, fazê-lo sentir as coisas que sinto, o papel é meu ponto de apoio. Batendo os dedos, agora, fortemente contra a madeira da mesa, caos. Estou partindo de novo, em busca de crescimento e dos sonhos que tive um dia. De ônibus, com a bagagem e o coração nas mãos. O coração sangrando, ferido - coitado - quer ficar. Tudo bem, eu me aguento. Ou pelo menos penso que aguento - a isso dão o nome de esperança. Ou pelo alguns acreditam que eu deveria aguentar. Deveria.


Saí de casa, levei comigo a alma e todo o resto. Sobrou uma placa na porta: Volto Logo.

Invariável

Posso não saber nada do coração das gentes, mas tenho a impressão, de que, de tudo, o pior é quando entra a segunda parte da letra de “Atrás da porta”, ali no quando “dei pra maldizer o nosso lar pra sujar teu nome, te humilhar”. Chico Buarque é ótimo pra essas coisas. Billie Holiday é ótima pra essas coisas. E Drummond quando ensina que “o amor, caro colega, esse não consola nunca de núncaras”. Aí você saca que toda música, toda letra, todo poema, todo filme, toda peça, todo papo, todo romance, tudo e todos o tempo todo, antes, agora e depois, falam disso. Que o que você sente é único & indivisível e é exatamente igual à dor coletiva, da Rocinha a Biarritz.

Caio Fernando Abreu

É um resto de toco, é um pouco sozinho

Um pouco de tristeza, um gole.
Um copo meio vazio na cabeceira, com livros que desaprendi a ler.
Uma música que se repete, repete, repete.
Uma dor - no coração - e a impossibilidade de pedir ajuda. Ajuda a quem? Nada poderia ajudar a dar ordem ao caos aqui dentro, aí fora.
Uma sede que não passa. Um abraço que não vem. Uma palavra que não chega. Um telefone que não toca.
Eis que volta a doer, então, uma ferida antiga. Palavras. Escolhas.
E uma certeza: isso vai passar, também.

E as águas, que não de março, mas das lágrimas que caem sem que tenham essa permissão, vem para fechar qualquer estação do ano que já nem me lembro mais.

terça-feira

Ad infinitum

Querido,
Nos outros eu sei onde se abriga o coração, é no peito; em mim a anatomia ficou toda louca, eu sou todo coração.
Não consigo escrever mais carta alguma, querido. Trecho, verso, prosa, nada. Não sai nada, palavra nenhuma. Tenho medo de ter me tornado... não encontro a palavra certa. Mas é como se as palavras certas não existissem mais, porque não as encontro nunca. Nem em ruas desertas ou becos sem saída. Nada. E olho que procuro, hein?! Escrevo, apago. Parece tudo borrado, milhões-de-frases-sem-nenhuma-cor, será que você pode entender? Eu não te encontro também. Ou te encontro e não te vejo. Ou te vejo e nem sinto mais o que eu pensava sentir por você. Pois é, as coisas mudam e as pessoas - veja - as pessoas mudam ainda mais. Ou não mudam nada. Desde que voltei, encontrei muita gente que parece como quando eu saí: iguais. Congeladas num tempo que nunca mais passou. Numa página de calendário que nunca mais virou. Ontem foi meu aniversário, sabia? A paz me invadiu por completo. É claro que é mais uma data, um número a mais nos cálculos da vida, mas que me inundou de paz. Paz de palavras que chegaram por pessoas certas, pelos meios certos. Não haveria como ser melhor, acho que quebraria todo o encanto. Eu tenho feito descobertas: já não sei mais onde fica o meu coração. Tudo está exposto, como uma ferida aberta que não cicatriza, mas se alastra por todo o resto do corpo, por todos os poros. Essa minha mania de amor, mania de amar, mesmo sabendo sofrer, mesmo sabendo o peso que tem o amor nas costas humanas. Não tenho culpa, amo cada vírgula desse texto pobre - porque me perdi das palavras - amo porque só isso sei fazer. E é isso. A anatomia se confundiu, as nuvens encobriram o céu. Acho que vai chover...
M.

sexta-feira

Que seja doce


Théo,
Você já se pegou pensando em Deus? Eu sempre estou. O tempo todo. Mas esses dias, confesso, esses dias senti que Ele estava próximo de mim, ao meu lado. Do alto da pedra, em Búzios, o vento batia forte, bagunçava meus cabelos. As ondas quebravam nas pedras com força. O barulho do mar, o sol ao lado quase dormindo, a lua ao outro chegando com passos de bailarina. Ventou um pouco mais forte, eu pensava em Deus. Acho que era Ele. Acho que Ele estava ali - embora eu acredite que ele está em todos os lugares todo o tempo. Pensei que eu poderia ter escolhido outro caminho, eu poderia ter seguido de outro jeito. Eu poderia não ter passado por tudo o que passei nesses meses. Eu poderia não ter crescido tudo o que cresci. Mas Ele me colocou aqui. Ele faz de tudo para o meu bem e eu sei: pelo teu também. Pelo de todos nós, na verdade. Parece que eu sou aquelas senhoras que ficam na igreja 24 horas por dia? Sou não. Nem vou muito à igreja, para falar a verdade. Mas é a minha fé que me leva dia após dia. Não haveria como ser de outro jeito. E existem tantas pessoas que não acreditam... eu não as critico. Nem posso. Também já tive fases de não acreditar. Mas, de uns tempos pra cá, a existência de algo que cuida de nós tem ficado tão explícita para mim, explícita mesmo, jogada no meu rosto. Não consigo não acreditar. Só queria dizer que nesse dia... os meus olhos se encheram d'água porque não haveria de ser de outro jeito. Fiquei tomada de amor, pelo mundo, pelas coisas, por mim. Não estava feliz, daquelas que ficam sorrindo cheia de dentes. Não estava triste. Eu estava bem. E desse dia em diante, é assim que estou: bem.
Te desejo um momento de encontro assim, como o que eu tive.
Te abraço,
Maria.

segunda-feira

A arte do encontro (com a memória)

Depois de dias vendo e revendo no baú da memória tudo o que já se passou, decido: vou escrever. Usar da minha ferramenta favorita para passar um pouco o grito interno. Acalmar as feras da memória. Parece até que fazem anos, né?! Que nada. Menos de quatro meses.
"Envelheci dez anos ou mais nesse último mês", um fato. Então, abro alas para a retrospectiva [sim, essas que, em geral, são só para perto do natal, ano novo blablabla], abro alas para o semestre mais intenso e para a sua beleza, para suas dúvidas, suas novidades mil. Escrevo com uma certa leveza. A leveza de não ter acertado tudo, nem errado tudo. A leveza da medida exata de estar onde eu sempre quis estar. É bom, não é? Confesso que nem sempre. Colocar meus sonhos em primeiro plano me fez abrir mão de uma porção de coisas que, sinceramente, doeu. Doeu deixar minha mãe chorando num aeroporto e embarcar sozinha para um lugar diferente, só com duas malas rosas e um coração cheio de esperança. Doeu. Doeu também deixar meu pai, meu irmão, minha família e meus amigos chorando numa rodoviária. Doeu. Ver o Cristo do avião é lindo. Dá uma paz na alma. sempre gostei de aviões, de voar. Se ser pássaro não daria, que fosse então com asas emprestadas. Voar era uma vontade que tinha desde pequena, entretanto, as viagens nunca se estendiam por caminhos tão extensos quanto os de agora. Desembarcar não foi um problema. Só minha cabeça estava perdida entre o aqui e o ali, o voo e os caras do banco ao lado ouvindo música e falando sobre táticas para o ouvido não doer durante o voo. Um deles lia um livro sobre relacionamentos, não sei o motivo, já que ele não se parecia muito com caras que leem livros sobre relacionamentos... quem sou eu pra julgar quem tem cara de que, não é? O mundo era novo e se abria todo para mim. Em mil pessoas novas, de outros estados, de todo o Brasil. Quem diria que eu, um dia, conheceria alguém de Roraima? Não só conheci como a tenho por colega de quarto. A cara de Roraima, a doçura e o encanto do extremo norte. Outra colega de quarto lá pelas bandas do Ceará, moleca, sorrindo para todo o mundo novo que se abria também para ela. O novo chegou para mim em lágrimas, lágrimas de saudade, soluçoes de saudade, noites sem sono pensando em como tudo poderia ter sido e se a escolha que fiz foi a correta. E foi? Sei não. Sei que segui o caminho que achei justo. E o mundo se abria, então, em encontros com a Academia Brasileira de Letras e um choque, acompanhado de um choro emocionado, ao descobrir que a escolhida era eu. Em livros de Caio Fernando Abreu me esperando na sala de português. Da descoberta do amor à Química. Da paixão imedível por História e suas Grandes Navegações. Da paixão por ensinar, por compartilhar, "conhecimento preso não é nada", digo lento tentando parecer sábia. Sou não. O encontro com pessoas divinas, de Santa Catarina à Caicó, do Rio Grande do Sul ao Pará, de Mauá e suas pérolas, de Três Lagoas e suas duas lagoas e meia, passando docemente por Mato Grosso e seu ilustre cidadão: àquele abraço! Como na música de Gilberto. O Brasil nunca pareceu tão lindo. O Rio de Janeiro então... continua sendo. Fevereiro e Março, maio, abril, junho. Estamos, chegamos. O mês dos namorados. A flor. As flores. Nove horas "e se nos casarmos todos os relógios hão de marcar por esse horário na casa toda". Meus textos morrendo na primeira linha. Eu adoecendo, a voz quase não saindo. "As pedras só precisam de um pouco de cuidado" "As pedras são as coisas mais importantes da vida", em nossas frases sem nexo, sei que me entende. Te entendo também. Deixa o silêncio falando por nós, nesse abismo entre a minha janela e a tua, a minha vida e a tua. Creio que se eu deixasse toda essa retrospectiva para o fim do ano faltaria folha, caneta e mão para escrever. Observando tudo, só posso dizer que estou feliz. Se fossem outros dias, sei que choraria de felicidade. A vida é a arte do encontro: com pessoas lindas, com situações agradáveis, com o crescimento, com a própria vida batendo na cara e dizendo: "ACORDA! É você por você!", e com a memória, seus labirintos, seu exagero de detalhes, seus conflitos. Ainda bem, ainda bem sim, que me deram o poder de lembrar e, mais que isso, o poder de transformar tudo isso em palavras. Para não doer por dentro. Para não sufocar.
PS: O não entendimento é parte do processo daqueles, como eu, que foram alfabetizados em russo, rá!

sábado

Memórias, crônicas e declarações de amor

Théo,
Antes eu só escrevia sobre o amor. Hoje em dia estou ainda mais chata, acredita? Misturei no amor a saudade e agora estou assim: chata. Só escrevo sobre amor. Só escrevo sobre essa saudade que transborda. O disco riscou. Criar não tenho criado quase nada. Textos não tem saído da primeira linha. Começo, apago. A borracha está quase acabando. Pois é. É que são tantas memórias... elas consomem a gente de vez enquando, vê? Mas nem é tanto quanto antes. Antes que eu digo são uns dias atrás, os dias que eu chorava mesmo. Hoje não choro mais não. Suspiro fundo, mas não choro. Preciso acostumar, os caminhos são esses agora.
Eu queria acreditar, Théo, eu só queria acreditar. Acreditar que você, quem sabe, me esperaria algum dia. Naquela mesma estação, Théo. Onde meu ônibus desembarcou durante todos esses anos de idas e vindas. Eu não mudei em nada não. Só adicionei saudade. Só adicionei uma vontade ainda maior de te abraçar. Mas eu tenho medo. Temo por te sufocar com meu abraço. Temo por te suforcar com meu excesso de amor, como tantas vezes o fiz. Eu te escrevi tanto durante o tempo que estive aí, entretanto você de nada soube, você nenhuma linha leu. Encher-te de palavras boas e sentimentos bons só faria por te sufocar. Minhas palavras mexem no fundo da sua alma e te faz ver que ela existe. Só pude te mostrar tudo o que escrevi um dia antes de partir. Nem sei se você leu e nem sei se me interessa muito. Talvez até não, sabe. E acho até que nem quero que você me espere. Querer não ia te fazer esperar. Não querer me faz sofrer menos. Talvez nem sofra nada, sabe? Sofrer parece que deixa as coisas mais bonitas quando escritas, você não acha? Acho que eu também não acho.
E essa carta termina sem fim,
Patrícia.

sexta-feira

O que não tem medida nem nunca terá

Renato e Gabi,
mas é como se eu existisse dum jeito mais completo.

A gente se lança no mundo sem saber quem é que vai encontrar, e quando é que vai encontrar, e como vai encontrar. Se é que vai encontrar alguém. É tudo incerto. Na verdade, era tudo incerto. Hoje a incerteza evaporou no calor dessa amizade. Hoje a incerteza perdeu seu prefixo. Sobram certezas sobre o quanto todo esse sólido que construímos se incorporou, feito tatuagem, aos nossos dias. As estradas que nos trouxeram até aqui não foram as mesmas. Nós - em três lugares distintos desse Brasil imenso - só fizemos por acreditar num mesmo sonho. Caçando, como se caça borboletas, formas de orgulhar seja lá quem for. Formas de nos orgulhar. Ou de não orgulhar ninguém. Formas de crescer, de mudar. Mudando de cidade, de casa, de vida. Sair de uma cidade tão pequena quanto a minha, confesso, não tornou mais fácil desembarcar aqui. Ter que recomeçar tudo que já estava na metade. Ter que reconhecer e definir o que eu queria pra mim. "Fico aqui? Não fico?" Todo o medo. A saudade de casa. É claro que isso continua muito vivo em mim. É claro que eu ainda choro de saudade. Mas eu tenho certeza de que eu não quero mais que as coisas voltem a ser como eram antes. Faz parte da vida esse andar para frente. Adiar os relógios é quase uma forma de prender a vida sempre num passado que - perdoe a redundância - já passou. Encontramo-nos, os três, na fase mais decisiva de nossas vidas. É justo que a gente tenha se encontrado exatamente nessa fase. É justo que as nossas estradas tenham resolvido se encontrar num tempo em que precisamos tanto dessa amizade que estamos construindo. Vale a pena estar perto de pessoas como vocês. Como vocês não, com vocês. Nem que seja para daqui uns dez anos nos surpreendermos num encontro casual num aeroporto qualquer de uma cidade qualquer. Nem que seja para daqui uns dez anos relembrar com carinho e chorar um pouquinho de saudade. Nem que seja para daqui uns dez anos pensarmos que poderíamos ter feito mais uns pelos outros. Nem que seja para daqui uns dez anos estarmos fazendo um churrascão com nossas possíveis famílias, nossas possíveis novas vidas, nossas possíveis mudanças. Vale a pena. Por vocês vale a pena acreditar. Mas eu espero, de verdade, que daqui uns dez anos estejamos como agora: adoçados por essa amizade diária.
Não deixem de olhar as estrelas. "Look how they shine for you" (Gabi, traduza para o Rê, por favor. Brincadeira).
Com amor,
Maria Carolina.

sábado

muro

Théo,
Eu sempre achei fácil por demais gritar que quer mudar o mundo, sempre achei. Gente que cheia de dizeres, de ideias mirabolantes... ih! tem aos montes. O problema, Théo, o grande problema é não olhar só para o próprio umbigo. Mesmo quando finge que olha tudo, não olha. Vê, ao fundo e desfocado, todos os problemas dos outros. O problema dos outros sempre foi importante por demais pra mim, a dor dos outros me dói a alma. Dá nó nas veias não pensar como os outros e atrasar todas as próprias necessidades para pensar em prol do outro. Outra coisa que muito se fala e pouco se faz: olhar em prol da outra pessoa. Ai, estou andando em círculos. Ficando até chata né?! É que tá incomodando, Théo, tá me deixando descontente. Eu sou só a poeira, só uma brisa de vento. As pessoas perguntam: "por que é que você chora? Você é boba, menina, boa de ficar se doendo por tudo. Faz é drama de tudo. Engole o choro." Eu gosto mesmo é de chorar, choro mesmo. Se o choro tá preso na garganta, eu o vomito. Melhor que ficar sufocada mostrando uma força que não existe. Sei que tô errada, sei que é um porre aturar gente assim. Não tem problema. Decidi que queria melhorar o mundo, que ia dar o melhor de mim. Sabe quantos anos eu tinha? Cinco. Essa vontade não passou. Essa vontade me sufoca dia após dia porque me vejo impotente, cara, não sei o que fazer. Hoje a emoção me invadiu, desculpa.
M.

sexta-feira

Quase um segundo

às vezes te odeio por quase um segundo /depois te amo mais
Histórias bonitas não são escritas só por pessoas que se parecem em absolutamente tudo, nem somente por opostos que se atraem. As regras não existem para as belas histórias.
Um balão, dois na verdade. Escolha uma cor. Verde, melhor o verde. E ficamos por último. Estoure o balão, meu bem, pegue o papel que há dentro dele. Perguntas. Você sabe que minha matéria favorita é história? Pois é. "Hoje preciso de você com qualquer humor, com qualquer sorriso", vou te confessar: não sou a pessoa mais fã dessa música, mas agora toda vez que ela tocar meu coração vai pular, porque eu vou estar feliz. Eu preciso de você, do seu modo de sorrir e de reclamar. Gosto da incógnita que você é e onde eu não posso descobrir nada além. Todas as conclusões são um pouco equivocadas. Não é divertido? Eu sou previsível demais, sempre do mesmo jeito. Você, que parece tão mais previsível que eu, sempre diferente. Voltemos à história: os balões. Depois, um pouco depois dos balões. Fechem os olhos, você precisa falar, eu preciso ouvir. Senta, fala. - Só sei que quando você está perto eu me sinto mais feliz. Um abraço. Toda a eternidade num abraço. Todos os tempos e passados e futuros dissolvidos apenas ao presente. Histórias bonitas são escritas quando a gente decide que vai escrever. Eu decidi.

quinta-feira

ainda que

"Proibido sentimentos, passear sentimentos, passear sentimentos desesperados de cabeça para baixo, proibido emoções cálidas, angústias fúteis, fantasias mórbidas e memórias inúteis..."
(caiofernandoabreu)

(silêncio)
(mais silêncio)
- Eu gosto de você (...) você ainda... ainda gosta um pouco de mim?
- Sim.
- Tem certeza?
- Sim.
(suspiro)
- Já não sei mais se acredito ou não. Acho, às vezes, e por mais que eu não queira, que lá na frente não há lugar suficiente para você ao meu lado. Acho até que... já não há, talvez.
(silêncio)
- E tenho medo. As luas mudam menos que você, mas você muda tanto que é difícil de entender. Tá, tá... é melhor eu parar de falar. Tá tarde já, né? Hora de dormir. Tarde, sempre tarde. Por mais cedo que pareça. Não tá me entendendo mais? Melhor desligar. Te ligo outro dia, certo? Me ligue também, se quiser.

quarta-feira

O eco de antigas palavras

Você,
Nem sei por que começar tuas cartas com esses nomes, esses títulos de "meu caro", "meu querido", e bla bla bla. Não tem mais nome nenhum não. Tem só desabafo, quer ouvir?
O dia está lindo hoje, lindo mesmo. O vento frio na cidade quente. Dizem que é uma das mais quentes do mundo, sabia? Sabia nada. Você só diz que sabe, mas não sabe. Não sabe porque não consegue ver. E ainda dizem que o pior cego é aquele que não quer enxergar. Eu sou assim, às vezes. Sou bem assim, visse? Bem feito você. Talvez por isso eu não aprove tanta coisa. Ou também aprove tantas. Mas não deve ser por isso que gosto de você. Gosto pelo teu inatingível, pelo teu ar de tudo saber. Gosto também - e por que não? - do jeito como arrumas o óculos ou como, freneticamente, olha as horas. Mas não é disso que quero falar. Quero te falar que faz frio. Que perdi dois agasalhos e então, bom, então o frio aumenta. O auto-retrato que faço, numas linhas tortas, num desenho no espelho, está tudo errado. Tudo não. Nós não. Estávamos até hoje de manhã, quando você reclamou do meu atraso. As horas não são nada, querido. As horas não passam de... não sei. Sei que as horas voam, escorrem pelas mãos. Vou me atrasar mesmo. Ai, hoje o dia foi estranho, do início ao fim. O meu humor, os picos dele. A vontade louca de correr para a cama e dormir pelo resto do dia, e depois chorar um pouquinho. A tarde, a vontade de correr para longe, de viver mesmo, com tudo o que isso implica. E agora essa vontade louca de sorrir, sorrir muito, mostrar mesmo os dentes. Tudo por uma carta que uma amiga me mandou. Acho bom que a gente se sinta assim: querida. Adoro esse termo. As pessoas deveriam amar ser chamadas de q-u-e-r-i-d-a-s, mas elas acham que é ironia. Tolas. Pois eu digo: tolas mesmo. Comecei a escrever isso a tarde, termino agora. E não ficou como eu queria. E os textos, mesmo as cartas, não saem como deveriam. Aprisionei as palavras em algum canto que não sei qual é. As palavras estão é zangadas comigo - mas digo que deveria ser o contrário. Acho que é melhor me levantar, dar uma volta. Sem tempos, sem horas. Não, pare de olhar os ponteiros do relógio, cara! Parece até que você tem pressa. Não-se-afobe-não-que-nada-é-pra-já-amores-serão-sempre-amáveis. Viu só? Ouviu? Foi Chico quem cantou e eu te repito com todas as palavras espaçadas, com todo o ar de coisa que pensei, mas nem pensei. Já disse: foi Chico quem cantou. Pois é. Não consigo mesmo criar nada. Era só para ser um desabafo mesmo, e acho até que foi. Objetivo cumprido. Um brinde!
Sem açúcar, com afeto,
M.

sexta-feira

Soluço

Querido pai,
Depois de uns dias decidi ouvir Bob Dylan. O nosso Bob Dylan, que embalou tantas vezes nossos passeios, suas histórias. Desde que cheguei aqui, tinha medo de colocar o Bob pra cantar. Tinha medo de não suportar a saudade, tinha medo de querer te ligar e dizer: "pai, por favor, vem me buscar, eu acho que vou estourar de saudade". Porque eu sei que você viria, eu sei que você largaria tudo e qu viria me ver. Ai pai, só agora eu vejo o quanto é difícil. Eu procurei também, durante esses meses, falar pouco de você. Justo você, que eu me enchia toda para falar, falava as frases todas bem articuladas e bem montadas para dizer aos meus amigos o quanto você é o máximo, o quanto eu admiro a sua história. E ainda completava com um: "não é só porque é o meu pai não, mas ele é o cara mais lindo do mundo". É pai, o tempo passou, sua filha cresceu, criou asas e foi-se. Eu nem sei mais onde eu estou, pai, eu nem sei. Eu tenho tanto medo. Sair de casa foi a experiência mais difícil de todas e eu espero, de verdade, que me sirva para algo. Você não sabe o quanto me dói não falar com você todos os dias, te ligar tão correndo sempre. Pai, você não sabe o quanto é ruim me ver tão sozinha, precisar do seu colo, do seu abraço. Eu preciso do seu jeito de ver o mundo para ser feliz, eu preciso das suas explicações de cada mínimo detalhe. Eu não sei crescer sem você, paizinho, mas sei que preciso aprender. Pai, esquece o que eu tinha dito, sua filha ainda não cresceu. Sua filha vai ser sempre essa criança que chora de saudade e dorme toda abraçada porque tem medo de escuro. Eu estou voltando logo, pai, agora falta pouco.
Maria Carolina.

domingo

a saudade ainda vai bater no teto


Carol,
Queria te escrever um bocado de coisas belas e capazes de encher páginas e páginas desse blog. Queria também fugir um pouco do velho clichê "parabéns, tudo de bom". Queria te dizer o quanto nossa amizade tem valor, ainda que eu esteja tão longe agora. Queria te dizer o quanto agradeço por você falar bastante e trazer para mim todas as novidades, seus problemas, suas alegrias. Queria agradecer por tudo o que você já fez por mim, por todas as horas de desabafos e de ombro pra chorar, por todas as pré-festas e pós-festas. Queria dizer o quanto desejo que você seja feliz, de melhor maneira. Queria dizer o quanto desejo que você se realize, que continue brilhando sempre e ainda mais. O problema é que eu não sei sequer como te dizer tudo isso. Mas te digo, de uma forma sincera, que tentei. E que tentar já é de grande valia, ainda mais quando as palavras fogem. Mas palavras não são tão necessárias assim. Só gostaria que você soubesse quão grande é o meu orgulho em poder te chamar de amiga, o quanto eu preciso e quero que você seja feliz. Cuida-te bem! Feliz aniversário, sinta-se abraçada.
Te amo muito,
Maria Carolina.


CarolM.(L)M.Carol.

Conversas de domingo

- Sabe, eu fiquei preocupada ontem. Mandei para você todo o meu sentimento em palavras e você nada me respondeu. Achei que tinha feito tudo errado.
Só segurou sua mão. Não precisavam dizer mais nada um ao outro. Tudo já estava dito, embora nenhuma palavra fosse ouvida. Como no sonho, em que ele só apareceu e num olhar mudou todo o rumo da história. Talvez bem ali, naquela preocupação sem motivo (que quase roubou a noite de sono), o amor de mostrasse de verdade. Nada, nada de ruim poderia ( e nem vai) acontecer.

sábado

Escanteio

Phelipe,
"No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio"
Tudo errado. Sempre tudo errado. Agindo errado sem querer. Metendo os pés pelas mãos. Chorando pelo leite derramado. Andando pelos caminhos tortos. Vontade de deitar e dormir. É o som do medo. O som da dor da insegurança. Impossível como não posso mesmo confiar em mim. Impossível como todas as atitudes são vistas de forma ruim. Impossível como eu posso querer tão bem pros outros e esse bem não ser revertido. Por que é que eu não posso amar? Amar um pouquinho só, sem medo. Amar de um modo que possam me amar também. São tantas impossibilidades cercando esse caminho, um nó. Estou amarrada, enforcada. A mercê da sorte. A mercê do medo. O vento está ventando mais frio, pode ver? Eu fiz tudo errado, mais uma vez. Mais uma vez eu deixei escorrer pelos dedos minha possibilidade de ser feliz. Mais uma vez, e não me canso, de ver tudo passar por minha precipitação. Esqueça. Faz parte não conseguir.
Agradeço por ouvir meu desabafo, mais uma vez. Agradeço por ser tão paciente. Não me deseje sorte. Ela nunca veio até mim. Os caminhos são tão tortuosos que num caminho maluco ela se perdeu. Nesse caso, desejar não adianta.
Te abraço, forte. Acho que até algumas lágrimas caem no tecido leve da tua blusa.
Joana.

terça-feira

Termômetro

Hoje a escrita me disse olá, depois de tantos meses. Logo eu que, hoje mesmo, me julgava já tão ultrapassada para as palavras e, mais que isso, já me julgava tão desconhecedora delas. Deconhecer das palavras é - e sempre foi - um medo pra mim, afinal foram elas que me levaram anos a fio em frente. Elas e eu, na verdade. Peço licença agora, na hora do surto das palavras, para dizer um pouco de tudo que vem ocorrendo desde que eu me esqueci das horas, me perdi delas. Junto das horas, me perdi também de um bocado de coisas, de pessoas. Coisas e pessoas que ficam no meio do caminho porque encontram outra saída. Outra coisa que me assustava: deixar pessoas pelo caminho. Mas hoje descobri que as pessoas ficam porque querem, a gente não pode dizer nada. A única coisa que a gente faz é tentar salvar, e quase nunca dá. O natural é seguir em frente. Sempre em frente, mesmo que para frente seja o outro caminho, o de trás, o mais difícil. Essa foi a escolha que eu fiz. Sozinha. Ninguém me pediu para sair de casa tão cedo assim. Foi a escolha que fiz porque meu mundo e meus sonhos já não cabiam na casa da frente da praça. Meus sonhos já não cabiam em nenhum lugar daquela cidade. Mas hoje não sei mais se eram sonhos mesmo. Mudaram tanto, distraíram-se tanto e, assim como as pessoas&coisas, ficou pelo caminho. Eu mesma mudei muito, e sei disso. Meus amigos, que antes reclamavam de mudanças que nem existiam de fato, hoje vão se surpreender. Vão me pedir para voltar a ser o que eu era antes, mas eu nem ao menos sei quem eu era antes. A essência está aqui, pode ver? Pois é. Mudei porque a ordem natural da vida é mudar, caso contrário a "seleção natural" leva os outros e te deixa para trás. E ela nem se importa, sabe? Nem um pouquinho. A vida, num contexto geral, nem se importa, reduz as ilusões a pó, como diria Cartola. Continuo do mesmo jeito. As horas passando e eu reclamando das horas do cansaço do surto dos amores sem fundamento das dores nas costas. Os amores, como sempre, ocupando lugar na mente. O coração, como sempre, batendo forte por alguém-ninguém, ainda mais aqui, onde tanta gente se olha e tampouca gente se vê, compreende? Tenho aprendido que - e uso de um bom e velho clichê - só se aprende o sentido das coisas, verdadeiramente, quando não as temos mais. Mas eu falo das coisas miúdas. Um cheirinho de café, cheirinho de gente que a gente ama, briguinhas com o irmão pormenores, rotinas. E meus olhos se enchem d'água. Como é triste perceber que para crescer é preciso abandonar tanta coisa. Abandonei um bocado de coisas e me abandonei um pouquinho também, já disse que mudei, né não?! Para ganhar o mundo é preciso abdicar de algumas coisas. E a vontade foi minha. Virei um monte de capítulos de um livro - que pensava já estar traçado do início ao fim - e entrei num ônibus e depois num avião e voei. Algumas horas penso se fiz a melhor escolha. E essas são as horas dos choros sem fim, do excesso de fragilidade, da carência de cuidado. Mas não há saída: fiz a melhor escolha, por mais que doa, por mais que todas as tentativas de melhorar se mostrem absurdamente inválidas no dia seguinte, por mais que eu ache que não tenho forças o suficiente. E tenho. O melhor de tudo é descobrir o poder de me superar, o poder de vencer meus medos. O melhor de tudo é saber que posso andar com as minhas próprias pernas sem medo que elas se quebrem. E acho que isso, pelo menos isso, é digno de admiração.
Obrigada palavras. Peço para que, por favor, não me abandonem mais.

quinta-feira

Hey!

Meu bem,
Que te dizer? Que quero relógios para ter mais tempo, ou para voltar no tempo, ou adiantar o tempo, ou parar no tempo? Que me sobram vírgulas e os pontos finais são tantos que viram reticências sem nunca um ponto final? Que um avião sobrevoou os céus agora a pouco e tudo me passou pela cabbeça, sobrevoou-me também? Que, de vez enquando, lembro-me do remoto com até um certo pesar? Das coisas que poderiam ser e não foram. Não! Relembrar não é acusar o passado. Relembro agora com carinho, o de sempre, ao pensar em quão grandes foram as contribuições que você trouxe. Trouxe com suas cartas, seu afeto, sua atenção. Eu sei que reapareço e sumo. E sei que sumo sempre que me dá na telha e volto, quando me dá na telha. Eu sei que sou um bocado "confusão" e é um porre, às vezes, aturar meus devaneios. Eu sei. E sei também que não há mal nenhum nisso. Somos apenas incomuns. E isso é bom, não é?! De forma incomum, porém comum para nós, venho de novo por meio de palavras te mostrarr que ainda sou grata e que serei sempre. E que ainda desejo, de forma ampla, todas as maravilhas que existem ao redor numa caixinha de música para você. Cheio de sons, cores, amores (que virão, passarão, ou não). E desejo enfim, porque meu tempo acaba, que não te falte tempo, que te sobre vida e que te transborde luz. Feliz aniversário.
Com um carinho demasiado sincero e, quiçá, eterno,
Maria.

'Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas, não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá.'

segunda-feira

Sentido

O sol se põe de um lado.
A lua quer aparecer, ali em cima.
Os passáros passam do norte para o sul. Ou do sul para o norte.
E deixo o Caio Fernando tentar explicar o inexplicável: "Tenho dias lindos, mesmo quietinhos".
Está tudo, tudo bem.
A felicidade não precisa de muito.
Só de um azul no céu, amarelo de sol.
E de paz. Ser feliz só depende da gente.
Para ser feliz só é preciso notar.

sábado

lado A

vi no blog da Gah, gostei :)
•Onde está seu celular?
Dentro da minha mochila, ou pelo menos deveria.
•E o amado?
Amado? Hã?
•Cor do cabelo?
A água e/ou o clima daqui deixam o meu cabelo verde.
•Sua mãe?
Em Jacarezinho.
•Seu pai?
Também.
Seu filho?
Ainda não, obrigada.
O que mais gosta de fazer?
Nunca gostei tanto de dormir. Eu responderia: Ler, mas não dá tempo direito.
O que você sonhou na noite passada?
Gostaria de me lembrar também.
Onde você está?
No meu quarto, sentada na cadeira vermelha.
Onde você gostaria de estar agora?
Em Jacarezinho, com os meus pais.
Onde você gostaria de estar daqui a seis anos?
Não consigo imaginar.
Onde você estava há seis anos?
Em casa.
Onde você estava na noite passada?
Exatamente onde estou agora.
O que você não é?
Sozinha.
O que você é?
Simpática :)
Objeto de desejo?
Não consigo pensar em nenhum, por enquanto.
O que vai comprar hoje?
Rá, nada.
Qual sua última compra?
Uma camiseta vermelha.
A última coisa que você fez?
Limpei meu quarto.
O que você está usando?
Uma regata laranja, um shorts de pijama rosa e verde.
Na TV?
Bobagens.
Seu cachorro?
Quero ter cinco deles quando for maior.
Seu computador?
Dando trabalho, como sempre.
Seu humor?
Não tem variado muito ultimamente.
Com saudades de alguém?
Todos os dias.
Seu carro?
Nem bicicleta.
Perfume que está usando?
Agora? Nenhum.
Última coisa que comeu?

Um pudim bem bom que teve na sobremesa do almoço.
Fome de quê?
De pão, mas tô com preguiça de descer para a colação.
Preguiça de?
Descer para a colação. De levantar daqui. De tudo.
Próxima coisa que pretende comprar?
Canetas.
Seu verão?
Foi ótimo, mas passou.
Ama alguém?
Sempre.
Quando foi a última vez que deu uma gargalhada?
Hoje de manhã.
Quando chorou pela última vez?
Não me lembro, foi por esses dias, e sei que era de saudade.
- agora não mais do blog da Gah:
Nome:
Maria Carolina
O que você está sentindo agora?
Saudade, cansaço e felicidade, lógico, porque a internet colabora muito comigo --'
Uma frase sábia:
Não ha nada a ser esperado, nem desesperado.
Que música está ouvindo agora?
Mistério do planeta - Novos Baianos.
Com quem está falando agora?

Com ninguém. Estou sozinha no quarto e o msn não entra.
Qual é o assunto?
próxima pergunta.
O que o sexo oposto tem que ser para ser perfeito pra você?

Que tenha "um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também."
Qual é o seu pior defeito?
Acreditar em tudo o que me dizem. Falar alto.
Qualidades?
Gosto de ouvir o que as pessoas tem a dizer.
Esportes?
Basquete.
Instrumentos que gosta?
Violino, baixo.
Livro preferido?
Os dragões não conhecem o paraíso. E a "insustentável leveza do ser", que estou terminando.
Casa ou apartamento?
Ca-sa!
Uma cidade:
O abençoado Rio de Janeiro. E Jacarezinho, pela saudade que me traz.
Uma saudade:
Jacarezinho, e tudo e todos que estão lá.
Um filme:
Hoje assisti "Moça com brinco de pérola" e até que achei legal
Beatles?

Ajuda dos universitários.
RBD?
E o que passou, calou.
Uma frase que combina com você agora:
"Dentro de cada pessoa tem um cantinho escondido decorado de saudade. Eu posso até mudar, mas onde quer que eu vá o meu cantinho há de ir"
Quem você queria abraçar agora?
Ah, queria ter braços suficientes para abraçar quem está longe.

O que fez hoje?

Curso de fotografia. Arrumei o quarto. E vou tomar um suco de laranja assim que sentir coragem de levantar daqui.
O que vai fazer amanhã?
Estudar.

sexta-feira

Bagunça

Distante distante, está esta garotinha
Ela está rezando para que algo aconteça com ela
Todo dia ela escreve palavras e mais palavras
Só pra expressar os pensamentos que ficam flutuando por dentro
E ela é forte quando os sonhos vem, porque eles
Levam ela, cobrem ela, eles estão todos sobre
A realidade que parece distante agora, mas não vá
Far Far - Yael Naim

quarta-feira

Pianos, chás, imortais

Abri o livro:
"Devoro um chocolate. A garganta arde um pouco. O coração arde um pouco. Escrevi "felicidade" em letras grandes no teto do meu quarto, da minha vida, nas paredes, nos pedaços ocultos. A felicidade me invadiu, me tomou, sentou na minha mão. Acho até que veio morar comigo. Nem bater nas portas, bateu. Felicidade não é o oposto de tristeza não, jovem. Felicidade e tristeza andam assim, oh: juntinhas. De mãos dadas. A tristeza anda um pouquinho mais atrás, mas a felicidade a puxa. Andam as duas, de um lado pulando, d'outro com a cabeça um pouco baixa. Certo, você está certo, muita gente não vai concordar comigo, mas de que importa? Hoje mesmo discordaram e eu chorei um pouquinho, só um pouquinho. Não por terem discordado de mim, mas por não terem me deixado falar. Eu quero falar, por favor, deixa só um pouquinho? Eu não peço muito não, senhor. Só quero é contar para você e para o mundo que hoje eu escrevi felicidade nas paredes do quarto enquanto comia um chocolate. E que eu só escrevi porque ela gritava em mim mais forte que a tristeza, naquela hora. Mas depois a tristeza veio gritando e me mandando "abaixar a guarda" que aqui eu não tinha com quem comemorar a felicidade. Eu fiquei quietinha e tristinha. Quer saber, estou é bem agora. E sabe, tudo porque uma luz - que não era a do fim do túnel, até porque os caminhos são abertos, túneis me agonizam - me iluminou. Sempre ilumina. Eu caminho também, de mãos dadas com a felicidade e com a tristeza. Ando pelos caminhos que eu quero andar, elas vão comigo. Não vou sozinha não, não ando sozinha. Cazuza um dia disse, e eu repito: agora eu ando muito bem acompanhado."
Fechei o livro.

PS: foi tudo para dizer que, caramba, segunda-feira eu conhecerei a Academia Brasileira de Letras. Os sonhos se realizam, enfim.

segunda-feira

Telhado

Querido, muito,
Há tempos não escrevo.Há tempos não sento aqui na frente desta máquina de escrever para te contar. As cartas não chegam, os telefonemas nem existem. É a correria, querido, é a correria. O tempo corre, escorre pelas mãos, o tempo voa longe. O tempo nem existe. Acho que tenho sono. Acho - ou melhor, tenho certeza - que sinto saudades. De você, de todos, da minha vida. Sinto falta de mim, estranho não é?! Pode parecer até ruim, mas eu ando me sentindo muito feliz. Muito feliz, ao pé da letra. Com tudo o que ser feliz implica, te digo: estou! As pessoas fazem votos de fidelidade o tempo todo, e eu?! Eu paro e observo Saturno e todos os seus anéis. Sabe, vi Saturno e me lembrei de você, dos nossos dias. Gosto de pensar, de me lembrar de você. Sinto um amor tão imenso, uma saudade tão forte. Conto de você aqui, falo, não invento, mas parece invenção. Eu nunca fantasio quando falo de você. Se conto de momentos felizes, me sinto super feliz. Se conto de momentos tristes falo mesmo mal de você, sujo o seu nome, em nome do nosso amor. Eu te amo tanto, tanto... é melancólico, piegas. Mas chega um pouco para lá que esse espaço no coração dói um pouco. É uma ferida recente, demora a cicatrizar, nada de instantâneo. Nem mesmo macarrão. Macarrão este que para e me encara frente a frente, não tenho água quente, o que eu faço? O horário do jantar passou, os horários sempre passam. As horas passam e, veja, estou já tem mais de meia hora te escrevendo. Minhas mãos doem, acho que é melhor parar por aqui. Parece que vai chover... gosto de chuvas, as lembranças me ocorrem e passam a mil pela minha cabeça, enfim... repito baixinho o que passou calou, o que virá dirá e o passado se cala. E o futuro se abre, talvez, rápido demais frente à retina.
Com carinho, afeto e saudade (em conta-gotas, para doer menos),
Sua.

quarta-feira

Que seja doce...

Saudade. Aprendizado. Primeiro mês. Saudade. + saudade. + aprendizado. + correria. Provas. Testes. Recuperações...

quinta-feira

E do que não escrevi, mas vivi e vivo e viverei.

Meu caro,

Ao som de Sweet Child of Mine (que não na voz do Axel, mas na voz de Silvia Machete, doce) venho te escrever. Tive uma súbita lembrança sua e me motivei a agora, menos de duas semanas para minha viagem, te dizer algumas das coisas – porque se torna impossível dizer todas – que você precisa ou não saber. Talvez hoje creio que não precise. Talvez.

Eu não me lembro como a gente se conheceu e nem como seu amor chegou aos meus ouvidos. Não me lembro qual foi, ao certo, o conteúdo da sua primeira carta endereçada a mim. Mas me lembro do bocado de carinho, de afeto. Nem quando namorei me senti tão querida. Era maravilhoso pegar tuas cartinhas e lê-las e me deliciar, para depois correr e esconde-las de minha mãe. Ela nunca as achou. Eu ainda sei onde a maioria delas está. A maioria, porque umas tantas eu rasgava quando você dizia não gostar mais de mim. Dou risada ao lembrar do quanto eu era boba. Era boba, mas demasiadamente sincera, assim como procuro ser agora. Sincera, sem fantasiar, sem iludir (a ti e a mim). O tempo foi passando e eu procurando me dedicar a coisas que não você. Eu pensava que era muito nova, e eu era. Ainda sou, na verdade. Ainda sou aquela mesma menininha. E se hoje você me mandasse cartas, eu reagiria da mesma forma, primeiro as segurava com força, depois as lia e por último as escondia até mesmo dos meus pensamentos. Era assim que eu guardava e guardo seu carinho, escondido de mim mesma, porque sei que não o mereço. Fui e sou injusta com o seu coração. Fui e sou, ainda, uma grande criança na matéria “sentimentos” e, você pode não saber, mas eu quase sempre quebro a cara. Eu gosto de me apaixonar, eu gosto de poder me apaixonar, mas o grande erro é me apaixonar só pelos que desmerecem e desdenham meu amor. Eu sempre me pergunto por que não pude escolher você. Acho que a gente daria certo. Você é carinhoso, do jeitinho que eu gosto, sem dosagens. Eu sou louca, imatura, insensata e que muda de opinião de cinco em cinco minutos. Eu já escrevi milhares de outras cartas para outras pessoas, mas, te juro, nenhuma me dói mais que essa. Dói porque eu não soube aproveitar as oportunidades que você e a vida me deram. Eu não soube e nem quis. Eu virei as costas para todas as coisas que poderiam me fazer feliz enquanto eu insistia sofrer por aqueles que só faziam com que eu sentisse um peso ainda maior das minhas atitudes erradas. Eu errei o tempo todo. Eu poderia culpar o tempo, eu poderia culpar os outros meninos, eu poderia te culpar, mas sei que a culpa só pertence a um alguém e este alguém sou eu. Eu sei que você vai dizer que a culpa não é minha. Sei também que você vai se culpar. Sei que ainda depois de tudo isso você vai me encher de elogios. Você é uma pessoa muito boa, mesmo. Um pouco adolescente, mas bom. Tem espaço de sobra no teu coração para mim e toda a minha bagunça, a minha loucura, a minha ebulição. Acho que não consegui me encontrar em você justamente porque você era quem me cabia. Se você fosse um outro que já passou pela minha vida eu iria gostar de você. Que bom que você não é, assim eu posso saber que você honraria meus sentimentos. Sabe, meu ex-namorado acabou de vir aqui em casa, a gente se viu e o telefone tocou, menos de dez minutos e ele teve que ir embora, ele tem um milhão e meio de afazeres e não consegue dedicar nem dez minutos mais do tempo dele a mim. Ninguém consegue dedicar mais tempo a mim. Só você. Eu sei que mesmo que você não me diga, você está se importando comigo, rezando por mim e, o melhor de tudo, está querendo o meu bem. Eu queria ser uma pessoa boa e pura, feito você. É uma pena que eu só tenha percebido que os outros rapazes valiam menos agora – é claro, não os desmerecendo, eu não faço o tipo que cospe no prato que se farta, e os outros rapazes, por mais que cheios de maluquices e molequices têm suas qualidades – é uma pena perceber que as coisas poderiam ter sido diferentes. Não foram porque eu não quis e agora é tarde para chorar. Chorar não solucionaria nada. É tarde também para me lamentar, o tempo não volta e não é mais cedo. Ou é cedo e eu não sei. As coisas estão escuras e turvas, eu estou chorando e gostaria que você pudesse agora passar as mãos nos meus cabelos e me dizer que não é assim. Você nunca me pediu nada em troca, você me amou tanto. Você se desproveu de desejos, você foi diferente, você é. Eu espero que você encontre uma outra menina capaz de fazer de você um cara feliz. Que vocês consigam construir o que eu só fiz por quebrar. É difícil falar isso, eu não consigo imaginar você fazendo a outra menina o que você me faz. Não consigo ver esse bem todo depositado a outra pessoa, por mais que essa pessoa mereça mais que eu. Eu sinto um ciúme egoísta. Eu não queria ficar próxima de você, tinha medo de conseguirmos nos liberar para o amor e eu, depois, te fizesse sofrer. Desde o inicio esse foi meu grande medo. O seu sofrimento me assombrando. O meu medo me limitando. Você me fazendo bem e não me querendo carnalmente. O nosso “amor” é tão espiritual que dói de tão bom. O nosso “amor” é diferente do amor dos outros porque a gente não precisa estar junto pra saber que isso existe. O nosso “amor” eu nunca escrevi. Essa é a primeira vez que eu te escrevo com a convicção de não querer errar, é a primeira vez que te escrevo depois de tantas cartas de criança. Eu não quero errar e por isso te digo tudo, porque seria um erro também se eu fosse embora sem te permitir saber das minhas verdades e dos meus motivos. Acho que este é o fim da carta. Esta é a sua carta de despedida. Este é o nosso segredo eterno. Esta é a minha visão de tudo o que a gente viveu. Isto aqui, estas linhas aqui, somos nós. Perdoa se ficou piegas. Perdoa se ficou choroso. Perdoa os erros passados. Cuida-te bem. Que Deus te proteja. Que o bem que você faz ao mundo possa voltar a você. E que um dia a gente possa voltar a se encontrar, quando eu e você estivermos preparados para esse amor. E se esse amor não mais existir, que a gente se reencontre só pelo prazer do reencontro. Que não te caiam lágrimas – ao menos que sejam de felicidades. Isso é o que eu queria ter coragem de te dizer – mas sou melhor com a escrita, por isso recorri a ela. Não precisa responder se não quiser. Não precisa lembrar disso depois que ler se não quiser. Faça o que quiser fazer. Ande pelos caminhos que quiser andar. E sinta-se abraçado pelo abraço que eu queria te dar, mas que nunca foi possível. Perdoa a minha limitação humana. Saiba que eu amei você, mas amei do modo errado, pelos avessos, esse é o meu jeito – por mais errado que seja – de tentar encontrar algo certo.

Abraços carinhosos e sinceros,

Maria.

PS:" E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo."

terça-feira

Pra declarar minha saudade



Deborah;* diz:
hoje a gente sentou e tava faltando você :/

É nessas horas que ter que ir embora dói feito uma bofetada. Nessas horas a gente lembra de tudo e decide que esse tudo está aqui e dói, demais. Lá fora ameaça chover. Dentro de mim chove faz tempo. Mas a gente tem é que fingir que é forte, engolir as lágrimas e oferecer a outra face para a saudade bater.

domingo

sossega, sossega - o amor não é para o teu bico.

“Queria tanto que alguém me amasse por alguma coisa que eu escrevi.” Caio F.

quinta-feira

May you stay forever young.

Querida Gabriella,
May you build a ladder to the stars
And climb on every rung
Há 17 anos o mundo brilha mais, nasceu você, estrela Gabriella. As palavras falham, desculpa. Você escapa sempre por entre os dedos, Gah, é tão leve. É realmente difícil falar de você. Eu abri essa página do blog achando que eu conseguiria te escrever coisas bonitas e que você ficaria feliz. Não há como desejar coisas à pessoas tão completas feito você. Desejo só que continue iluminando minha vida como tem feito por três anos. Você é muita verdade, uma verdade que dói às vezes, mas verdade é sempre bom! Gostaria de dizer que te admiro muito e também quero me desculpar por ser tão ausência de vez em quando. A cama elástica está embaixo do teu céu, com uma estrela mais brilhante e mais azul, com um copo de café e açúcar. Paro para desejar, ainda, a arte de amar, a cachaça no bar e bons ventos, sempre docinhos, feito você. "eu gosto tanto, mais tanto que se gostasse mais explodia"
Com toda essa simplicidade, venho te dizer Gabriella Perez de Souza, que quero que sejas o mais feliz que puder, sempre. E que não te ausentes de mim. Feliz aniversário.
Um abraço tão forte que faz a coluna quebrar, com muito carinho,
Maria.

Todo o amor do mundo ( e um pouco mais)

Mãe,
Palmas à criatura - criadora que me fez cria. Queria ter habilidades artísticas para te fazer um presente dos mais bonitos, não consigo. Consigo, ou pelo menos tento, por meio das minhas palavras tão pobres te dizer o quanto é bom ser tua prole. Não sei como foi quando, ainda no dia 19 de julho de 1994, você me recebeu nos braços pela primeira vez, mas sei que estava protegida. Protegida fui e sou pelas tuas asas, para sempre tão grandes. Moro dentro deste coração tão quentinho que é teu. Moras em mim e não sai. Você é um caramujo e eu fiz minha casa em você, não há quem me bote para outro canto. E eu ainda dou para perguntar o que seria de mim sem você, não há resposta, eu simplesmente não seria. Você é tudo e me permite ser um pouquinho de você. Os cabelos tão enrolados, o humor tão alterável. Acho que nunca consegui te dar um presente tangível, até porque não tenho - ainda - de onde tirar dinheiro. Seus presentes são sempre assim, eu me entregando em palavras, que são o melhor que eu posso fazer. Sempre, desde que a escrita me foi apresentada, com a letra um pouco quadrada e com erros ortográficos infinitos, eu escrevia com lágrimas nos olhos: "você é a melhor mãe do mundo, eu te amo muito". E ainda as lágrimas me escorrem quando penso nisso. Não sou um presente para você. Você é um presente pra mim. Desde que nasci, é por você e para você que procuro melhorar. Eu quero te orgulhar, mamãe. Desculpa pelo tom de voz alto, às vezes. Desculpa pela precariedade das palavras. É tudo com muito amor, talvez o maior amor que a criatura - ainda cria - pode ter. O amor é tanto que as palavras nem dizem muito. O amor é tanto que a palavras são desnecessárias. Feliz aniversário. Obrigada, em suma, por existir. Sou porque és.
Com muito respeito, admiração e amor,
Maria, sua filha.

sábado

Comigo

Querido,
Tosse, tosse, tosse. Algo engasgado de tal forma que tosse nenhuma arranca do lugar. Lágrimas nos olhos. Tento me levantar, tudo roda e quase caio. Pode ser que seja a pressão, para sempre tão baixa. Nada se move. As horas passam, os compromissos chegam, minha mãe não atende o telefone. Odeio precisar dessas caronas. Tosse, ainda. Tem um chocolate na geladeira, quer? Esse telefone aqui em minha frente, ninguém atende, ninguém responde. O telefone está mudo, cortaram? Não. Consigo. Disco lentamente, de novo, os números da minha mãe. "Mãe, vem me buscar, estou engasgada". Porra, que isso! Essa tosse que não passa. E você, como está? Engasgado também? Eu tinha prometido que não iria mais te escrever, mas essas cartas são a melhor saída pra me livrar das angústias. Eu quero ter tempo pra tudo e, no entanto, não encontro tempo sequer para respirar. Por quê? Não faço nenhum esporte, nenhum curso, nada. Dá onde vem essa falta de tempo? Preciso é comprar um relógio e um jornal. Vou desligar tudo e passar ali na esquina tomar um café amargo, naquele bar sujo com pessoas tropeçando nos próprios passos. Vou ver se consigo desengasgar vomitando todas essas coisas em você, essas verdades, essas saídas que não encontro. Passa devagar a mão sobre o meu cabelo, conta-me uma mentira qualquer, uma história.
Cem gramas, sem dramas, um beijo,
Maria.

quinta-feira

Corro demais só pra te ver, meu bem

A solidão é meu cigarro
Não sei de nada e não sou de ninguém
Eu entro no meu carro e corro
Corro demais só pra te ver, meu bem

Um vinho, um travo amargo e morro
Eu sigo só porque é o que me convém
Minha canção é meu socorro
Se o mar virar sertão, o que é que tem?

Dias vão, dias vêm, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração se não eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu

O amor é pedra no abismo
A meio-passo entre o mal e o bem
Com meus botões à noite cismo
Pra que os trilhos, se não passa o trem?

Os mortos sabem mais que os vivos
Sabem o gosto que a morte tem
Pra rir tem todos os motivos
Os seus segredos vão contar a quem?

Dias vão, dias vêm, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração se não eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu

Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu.
Zeca Baleiro

terça-feira

Crime perfeito.

Era um vez...
Não, não era uma vez, ainda é. O coração ainda acelera e eu ainda não consigo falar de nada que não seja amor. Amor saindo pelos poros e disparando corações já tão cansados e velhos e abatidos. Eu poderia correr para sempre e para tão longe quanto nem você e nem eu pudéssemos me ver. Mas não é permitido. Tenho que ficar aqui e sentir dia após dia a casca da ferida sendo tirada na unha, ferindo sem anestesia, sangrando, morrendo. E depois, mais uma vez, você surge e me embala num abraço. Morde para depois soprar, sua tática infalível. Infalível porque você já sabe que eu sempre te aceito, que eu sempre te permito, que não consigo vencer essa batalha diária contra mim mesma e todo esse baralho de sentimentos aqui dentro. Bem aqui, olha. Aqui do lado esquerdo do corpo, no ponto máximo, no grande senhor soberano que bombeia o sangue e, assim, permite a vida. Aqui no coração. Ainda velho cansado e velho e abatido e sempre a mercê dos seus crimes perfeitos.

Sem eira nem beira.

Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse

Ai se sêsse - zé da luz

domingo

Cantiga

Liguei o som. No rádio tocava algo e eu de nada entendia. O mundo parecia girar em câmera lenta, e num surto, me lançar para fora dele, me fazendo apenas espectadora de todos esses giros. Como se lá de cima eu pudesse ver Marte entrar em contato com a Terra e formar um grande eclipse. Era tudo tão surpreendente. A Terra girando e conflitando com Marte, entrando em estado de amor imenso. Como um grande balé, cheio de passos certeiros e choques e estados de amor. Eu procurava entender o que a rádio me dizia:"três da tarde, o tempo está nublado e um milhão de estradas congestionadas querendo levar as pessoas ao mesmo lugar. O congestionamento é consequencia das chuvas de verão provocadas pelo El Niño. A cidade está debaixo d'agua. Pessoas morrem porque não sabem nadar". Não sei nadar, eu poderia morrer se estivesse no lugar errado agora. Estou no meio do congestionamento e meu carro é o meio da fila, "não chegarei a tempo, não chegarei a tempo" penso. Pode ser que eu tenha inventado tudo isso, radialista nenhum diria isso às três da tarde, não estava nublado, eu imagino. E lentamente eu parecia voltar à Terra. Abro os olhos de leve, estou deitada no tapete branco do meu quarto, ainda tão desarrumado. Alguém bate na porta... quem poderia ser? Ninguém, estou sozinha em casa, melhor não atender, melhor esquecer. Hoje também não atendi telefonemas. Há tempos não atendo o telefone que parece tocar sem parar. Nenhum amor, nenhum recado, nenhuma novidade para contar aos amigos, nenhum braço a torcer aos inimigos. Nada muda. Acho que estou sobre este tapete no mínimo uns 20 dias. O carnaval já passou, os blocos foram-se embora. Em boa hora. Ou não. São quase quatro da tarde, já. Já? Só? Só. Deve ser tudo ilusão. Quem bate na porta agora é minha mãe. Eu estou a frente desse computador contando essas mentiras de carnavais. Eu não estou. Na prosa, quase morta, me despeço. Me despenco porque escrever torna todas as mentiras verdades. E desato os nós, porque só há nós nos que amam e são amados. Nas minhas mentiras - já tão verdades - não há nós. Há eu.

terça-feira

89% concluído.

Novos vícios, novos horizontes: www.flickr.com/photos/pelosares

Eu tive um amor um dia

"Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou (...). Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia (...). Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar."

sábado

Desistir, desistir, desistir

Fabrício Carpinejar - Daqui por diante
Você me diz que tratará de arranjar um jeito de arrancar seu amor por mim. Como parar de fumar ou beber.
PARE DE AMAR E EMAGREÇA DEZ QUILOS.
Parece fácil?
Já a vejo colocando adesivo no carro. Já a vejo mostrando fotografias de ANTES e DEPOIS.
É descer e pôr o amor na rua, com o cuidado de embrulhar o vidro no jornal para o lixeiro não se ferir.
Tem medo que eu a descarte, portanto é melhor acabar agora. É melhor não sofrer mais. Não vai arriscar.
Nem subirá os olhos pelos andares da geladeira. Não vai conferir a data de validade das confidências. Descobriu que o amor estragou.
Decidiu. Não é uma ameaça, é uma conclusão. Para sempre.
Está interessada em cuidar de sua saúde. Mudará os hábitos.
É com facilidade que afirma. Com desembaraço. Assim como trocar o dia cinco pelo seis na folhinha do calendário, como amarrar os sapatos, como separar as roupas velhas das vivas.
Não pretende mais ser incomodado. Não tem mais nada para falar.
Você cuidará de expulsar o amor que tem por mim. Cortará a água e a luz desse amor.
Está cansada de explicar. Explicar o que nem entende.
Você é capaz de casar para se vingar. Fingir que está feliz. Colocar toda a sua concentração para me convencer que conseguiu.
Serei deportado de sua memória. Me mandará de volta ao conto de fadas, de onde nunca deveria ter saído.
Explica que não é pessoal, é uma decisão técnica. Há outras vidas inocentes em jogo. Mais um pouco, as paredes desabam.
Não é justiça, é desespero, que dá no mesmo.
Rasgou o que não é papel: meus cabelos, meus cílios, meus casacos.
Decidiu, ponto. Como arrumar a cama. Como limpar as gavetas. Como empilhar a louça.
Botou na cabeça. Como quem bate a porta. Como quem desliga o telefone na cara.
Pronto. Como desistir de um curso. Como abandonar uma viagem.
Sem recurso. Sem direito de resposta. Sem pensar duas vezes.
Você vomitará inteiro seu amor por mim. Com os dedos na garganta.
Você deixará o banho transformada. Sem nenhuma lembrança da praça e da noite em que tremia de frio.
Recomeça o ano com um caderno mais bonito do que sua letra.
Sofrerá um pouco de contrariedade no início. Como um vício. Após a primeira semana passa. Acredita que passa.
Você pedirá atestado médico. Para não ir ao trabalho desse amor. Ao expediente desse amor.
Você fará quimioterapia desse amor. Arrancará o câncer desse amor. Arrancará o caroço de minhas mãos de seus seios. Arrancará o pressentimento do meu braço de seus ombros.
Nenhuma choradeira. É natural desamar. Como espantar insetos com o calor. Como recusar esmolas na sinaleira.
Está mais madura, determinada, livre.
Você decidiu, não depende mais de mim. Você decidiu que não presto para sua vida, que merece alguém melhor.
Como quem escolhe ser vegetariana. A partir de hoje, não comerá mais carne. Simples: a partir de hoje, não me ama mais.
Você cuspirá em meu nome. Você vai ocupar todas as sessões de terapia para me ofender.
Eu não presto, nunca prestei, mas o amor que você sente não tem nada a ver comigo. Ele não depende de nós para nascer ou morrer.
Isso só descobrirá depois. Depois de desistir de desistir de desistir.