sábado

Comigo

Querido,
Tosse, tosse, tosse. Algo engasgado de tal forma que tosse nenhuma arranca do lugar. Lágrimas nos olhos. Tento me levantar, tudo roda e quase caio. Pode ser que seja a pressão, para sempre tão baixa. Nada se move. As horas passam, os compromissos chegam, minha mãe não atende o telefone. Odeio precisar dessas caronas. Tosse, ainda. Tem um chocolate na geladeira, quer? Esse telefone aqui em minha frente, ninguém atende, ninguém responde. O telefone está mudo, cortaram? Não. Consigo. Disco lentamente, de novo, os números da minha mãe. "Mãe, vem me buscar, estou engasgada". Porra, que isso! Essa tosse que não passa. E você, como está? Engasgado também? Eu tinha prometido que não iria mais te escrever, mas essas cartas são a melhor saída pra me livrar das angústias. Eu quero ter tempo pra tudo e, no entanto, não encontro tempo sequer para respirar. Por quê? Não faço nenhum esporte, nenhum curso, nada. Dá onde vem essa falta de tempo? Preciso é comprar um relógio e um jornal. Vou desligar tudo e passar ali na esquina tomar um café amargo, naquele bar sujo com pessoas tropeçando nos próprios passos. Vou ver se consigo desengasgar vomitando todas essas coisas em você, essas verdades, essas saídas que não encontro. Passa devagar a mão sobre o meu cabelo, conta-me uma mentira qualquer, uma história.
Cem gramas, sem dramas, um beijo,
Maria.

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