sexta-feira

Soluço

Querido pai,
Depois de uns dias decidi ouvir Bob Dylan. O nosso Bob Dylan, que embalou tantas vezes nossos passeios, suas histórias. Desde que cheguei aqui, tinha medo de colocar o Bob pra cantar. Tinha medo de não suportar a saudade, tinha medo de querer te ligar e dizer: "pai, por favor, vem me buscar, eu acho que vou estourar de saudade". Porque eu sei que você viria, eu sei que você largaria tudo e qu viria me ver. Ai pai, só agora eu vejo o quanto é difícil. Eu procurei também, durante esses meses, falar pouco de você. Justo você, que eu me enchia toda para falar, falava as frases todas bem articuladas e bem montadas para dizer aos meus amigos o quanto você é o máximo, o quanto eu admiro a sua história. E ainda completava com um: "não é só porque é o meu pai não, mas ele é o cara mais lindo do mundo". É pai, o tempo passou, sua filha cresceu, criou asas e foi-se. Eu nem sei mais onde eu estou, pai, eu nem sei. Eu tenho tanto medo. Sair de casa foi a experiência mais difícil de todas e eu espero, de verdade, que me sirva para algo. Você não sabe o quanto me dói não falar com você todos os dias, te ligar tão correndo sempre. Pai, você não sabe o quanto é ruim me ver tão sozinha, precisar do seu colo, do seu abraço. Eu preciso do seu jeito de ver o mundo para ser feliz, eu preciso das suas explicações de cada mínimo detalhe. Eu não sei crescer sem você, paizinho, mas sei que preciso aprender. Pai, esquece o que eu tinha dito, sua filha ainda não cresceu. Sua filha vai ser sempre essa criança que chora de saudade e dorme toda abraçada porque tem medo de escuro. Eu estou voltando logo, pai, agora falta pouco.
Maria Carolina.

domingo

a saudade ainda vai bater no teto


Carol,
Queria te escrever um bocado de coisas belas e capazes de encher páginas e páginas desse blog. Queria também fugir um pouco do velho clichê "parabéns, tudo de bom". Queria te dizer o quanto nossa amizade tem valor, ainda que eu esteja tão longe agora. Queria te dizer o quanto agradeço por você falar bastante e trazer para mim todas as novidades, seus problemas, suas alegrias. Queria agradecer por tudo o que você já fez por mim, por todas as horas de desabafos e de ombro pra chorar, por todas as pré-festas e pós-festas. Queria dizer o quanto desejo que você seja feliz, de melhor maneira. Queria dizer o quanto desejo que você se realize, que continue brilhando sempre e ainda mais. O problema é que eu não sei sequer como te dizer tudo isso. Mas te digo, de uma forma sincera, que tentei. E que tentar já é de grande valia, ainda mais quando as palavras fogem. Mas palavras não são tão necessárias assim. Só gostaria que você soubesse quão grande é o meu orgulho em poder te chamar de amiga, o quanto eu preciso e quero que você seja feliz. Cuida-te bem! Feliz aniversário, sinta-se abraçada.
Te amo muito,
Maria Carolina.


CarolM.(L)M.Carol.

Conversas de domingo

- Sabe, eu fiquei preocupada ontem. Mandei para você todo o meu sentimento em palavras e você nada me respondeu. Achei que tinha feito tudo errado.
Só segurou sua mão. Não precisavam dizer mais nada um ao outro. Tudo já estava dito, embora nenhuma palavra fosse ouvida. Como no sonho, em que ele só apareceu e num olhar mudou todo o rumo da história. Talvez bem ali, naquela preocupação sem motivo (que quase roubou a noite de sono), o amor de mostrasse de verdade. Nada, nada de ruim poderia ( e nem vai) acontecer.

sábado

Escanteio

Phelipe,
"No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio"
Tudo errado. Sempre tudo errado. Agindo errado sem querer. Metendo os pés pelas mãos. Chorando pelo leite derramado. Andando pelos caminhos tortos. Vontade de deitar e dormir. É o som do medo. O som da dor da insegurança. Impossível como não posso mesmo confiar em mim. Impossível como todas as atitudes são vistas de forma ruim. Impossível como eu posso querer tão bem pros outros e esse bem não ser revertido. Por que é que eu não posso amar? Amar um pouquinho só, sem medo. Amar de um modo que possam me amar também. São tantas impossibilidades cercando esse caminho, um nó. Estou amarrada, enforcada. A mercê da sorte. A mercê do medo. O vento está ventando mais frio, pode ver? Eu fiz tudo errado, mais uma vez. Mais uma vez eu deixei escorrer pelos dedos minha possibilidade de ser feliz. Mais uma vez, e não me canso, de ver tudo passar por minha precipitação. Esqueça. Faz parte não conseguir.
Agradeço por ouvir meu desabafo, mais uma vez. Agradeço por ser tão paciente. Não me deseje sorte. Ela nunca veio até mim. Os caminhos são tão tortuosos que num caminho maluco ela se perdeu. Nesse caso, desejar não adianta.
Te abraço, forte. Acho que até algumas lágrimas caem no tecido leve da tua blusa.
Joana.

terça-feira

Termômetro

Hoje a escrita me disse olá, depois de tantos meses. Logo eu que, hoje mesmo, me julgava já tão ultrapassada para as palavras e, mais que isso, já me julgava tão desconhecedora delas. Deconhecer das palavras é - e sempre foi - um medo pra mim, afinal foram elas que me levaram anos a fio em frente. Elas e eu, na verdade. Peço licença agora, na hora do surto das palavras, para dizer um pouco de tudo que vem ocorrendo desde que eu me esqueci das horas, me perdi delas. Junto das horas, me perdi também de um bocado de coisas, de pessoas. Coisas e pessoas que ficam no meio do caminho porque encontram outra saída. Outra coisa que me assustava: deixar pessoas pelo caminho. Mas hoje descobri que as pessoas ficam porque querem, a gente não pode dizer nada. A única coisa que a gente faz é tentar salvar, e quase nunca dá. O natural é seguir em frente. Sempre em frente, mesmo que para frente seja o outro caminho, o de trás, o mais difícil. Essa foi a escolha que eu fiz. Sozinha. Ninguém me pediu para sair de casa tão cedo assim. Foi a escolha que fiz porque meu mundo e meus sonhos já não cabiam na casa da frente da praça. Meus sonhos já não cabiam em nenhum lugar daquela cidade. Mas hoje não sei mais se eram sonhos mesmo. Mudaram tanto, distraíram-se tanto e, assim como as pessoas&coisas, ficou pelo caminho. Eu mesma mudei muito, e sei disso. Meus amigos, que antes reclamavam de mudanças que nem existiam de fato, hoje vão se surpreender. Vão me pedir para voltar a ser o que eu era antes, mas eu nem ao menos sei quem eu era antes. A essência está aqui, pode ver? Pois é. Mudei porque a ordem natural da vida é mudar, caso contrário a "seleção natural" leva os outros e te deixa para trás. E ela nem se importa, sabe? Nem um pouquinho. A vida, num contexto geral, nem se importa, reduz as ilusões a pó, como diria Cartola. Continuo do mesmo jeito. As horas passando e eu reclamando das horas do cansaço do surto dos amores sem fundamento das dores nas costas. Os amores, como sempre, ocupando lugar na mente. O coração, como sempre, batendo forte por alguém-ninguém, ainda mais aqui, onde tanta gente se olha e tampouca gente se vê, compreende? Tenho aprendido que - e uso de um bom e velho clichê - só se aprende o sentido das coisas, verdadeiramente, quando não as temos mais. Mas eu falo das coisas miúdas. Um cheirinho de café, cheirinho de gente que a gente ama, briguinhas com o irmão pormenores, rotinas. E meus olhos se enchem d'água. Como é triste perceber que para crescer é preciso abandonar tanta coisa. Abandonei um bocado de coisas e me abandonei um pouquinho também, já disse que mudei, né não?! Para ganhar o mundo é preciso abdicar de algumas coisas. E a vontade foi minha. Virei um monte de capítulos de um livro - que pensava já estar traçado do início ao fim - e entrei num ônibus e depois num avião e voei. Algumas horas penso se fiz a melhor escolha. E essas são as horas dos choros sem fim, do excesso de fragilidade, da carência de cuidado. Mas não há saída: fiz a melhor escolha, por mais que doa, por mais que todas as tentativas de melhorar se mostrem absurdamente inválidas no dia seguinte, por mais que eu ache que não tenho forças o suficiente. E tenho. O melhor de tudo é descobrir o poder de me superar, o poder de vencer meus medos. O melhor de tudo é saber que posso andar com as minhas próprias pernas sem medo que elas se quebrem. E acho que isso, pelo menos isso, é digno de admiração.
Obrigada palavras. Peço para que, por favor, não me abandonem mais.

quinta-feira

Hey!

Meu bem,
Que te dizer? Que quero relógios para ter mais tempo, ou para voltar no tempo, ou adiantar o tempo, ou parar no tempo? Que me sobram vírgulas e os pontos finais são tantos que viram reticências sem nunca um ponto final? Que um avião sobrevoou os céus agora a pouco e tudo me passou pela cabbeça, sobrevoou-me também? Que, de vez enquando, lembro-me do remoto com até um certo pesar? Das coisas que poderiam ser e não foram. Não! Relembrar não é acusar o passado. Relembro agora com carinho, o de sempre, ao pensar em quão grandes foram as contribuições que você trouxe. Trouxe com suas cartas, seu afeto, sua atenção. Eu sei que reapareço e sumo. E sei que sumo sempre que me dá na telha e volto, quando me dá na telha. Eu sei que sou um bocado "confusão" e é um porre, às vezes, aturar meus devaneios. Eu sei. E sei também que não há mal nenhum nisso. Somos apenas incomuns. E isso é bom, não é?! De forma incomum, porém comum para nós, venho de novo por meio de palavras te mostrarr que ainda sou grata e que serei sempre. E que ainda desejo, de forma ampla, todas as maravilhas que existem ao redor numa caixinha de música para você. Cheio de sons, cores, amores (que virão, passarão, ou não). E desejo enfim, porque meu tempo acaba, que não te falte tempo, que te sobre vida e que te transborde luz. Feliz aniversário.
Com um carinho demasiado sincero e, quiçá, eterno,
Maria.

'Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas, não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá.'