sábado

Muitas flores, nenhum espinho

Muitas vezes sou contra o pedido de desculpas, ainda não sei o por que, mas sou. Ao mesmo tempo, acho nobre, acho digno, mas vale? Depende. Ou não depende. Estou muito confusa, mesmo. O dia? Ótimo, o céu pintado de um azul tão claro, mas os meus pensamentos... não, também me poupo de pensar. Minha paciência e minha vontade de não desatar os nós me salvou mais uma vez, nos salvou, caso contrário cairíamos num abismo com poucas possibilidades de regresso. E fico contente, contente comigo, e mudo de assunto. "Aí chega a hora que distribuo um segredo: o tudo que me faltava, talvez, seja você." Acho, na verdade, quase não acho, substituo o achar por uma quase certeza de que você, sim, você e a sua impossibilidade é o que me faltava. Sim, fui burra, procurei nos lugares errados, virei-me nas horas erradas, errei e sabia que errava. Não me dei conta de que ao meu lado, tão perto, existia alguém que queria o meu bem. Eu não me permiti, permiti errar, não me dei conta e fui deixando passar. Ora, a culpa também não é toda minha. Você me despistou, com seu jeito rude e com o seu olhar de reprovação. Se for verdade tudo o que você me disse ontem, fico feliz. Aprendi a desvendar os teus sinais. Você posicionou o meu olhar para a direção que eu me recusava a ver que existia. 'Tô seguindo, eu vejo o sol, eu vejo, 'tá tudo muito próximo...

PS: Este é um PS importante. Você vai ler e vai achar que eu estou chateada, porque comecei falando sobre o pedido de desculpas, não é? Mas olha, esqueça, assim como eu me esqueci. Acho que o choro, naquela hora, foi provocado mais pelo susto do que por qualquer outra coisa. Ninguém é de ninguém, nós sabemos. E, se para você é necessário ouvir, te digo: te desculpo, mesmo sendo desnecessário, as coisas não vão mudar, eu já te disse, escuta!

segunda-feira

Me destaco de um albúm de fotografia antigo...

... pra lembrar de mim
"Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo." CaioF.

Força do acaso, azar ou sorte

Não, não é nada grave. É só o coração que ainda insiste. E não cansa, mas eu não, eu estou parando devagar, freando, parando os motores, abandonando o barco, como já deveria ter feito e não fiz, como sempre digo e não faço. Mas desta vez não, está na hora de me poupar. E então surgem as questões. Deveria te falar sobre as cartas que você não leu? Deveria organizar as culpas e distribuir aos presentes? Deveria te abraçar e dizer: é o último? Deveria sair pela tangente, sem dizer, sem te olhar? Talvez sim, é a opção mais aceitável. Sair pela tangente nunca foi, para mim, o melhor e a se fazer, mas agora... agora eu estou sem saída. E saída por saída, opto pela que evita lágrimas e maiores frustrações. Deixa, deixa... mas chega disso.
Ando rezando para todas as divindades, rezando baixinho mas sinto que, de alguma forma, sou ouvida. O tempo está chegando, nada basta e disseram um dia que navegar é preciso, eu acredito. Acredito em tudo, seja qual for a pessoa, se é singular ou plural. Acredito em mim.
O tempo está limpando, é assim que dizem quando a chuva dá trégua não é? Está abrindo um sol lindo em minha vida, vejo raios de sol por trás de nuvens tão escuras, não vai mais chover, não vai mais chover.

Coisas-assim-me-lembram-você

'...Ela parecia de repente muito segura. Ela apertou um botão e, de um gravador, começou a sair a voz de Nara Leão cantando These Foolishing Things: coisas-assim-me-lembram-você. Ela veio meio balançando ao som do violão e convidou-o para dançar, um pouco mais. Ele aceitou, só um pouquinho. Ele fechou os olhos, ela fechou os olhos. Ficaram rodando, olhos fechados. Muito tempo, rodando ali sem parar. Ele disse:
― Eu não vou me esquecer de você.
Ela disse:
― Nem eu.'

Mesmo com um pé de insegurança, continuo feliz feliz feliz..

domingo

Cinema mudo

No fundo, no fundo, estou sendo até um pouco você, e aprendendo, aprendendo, aprendendo, alguns diriam algo como "aprender da pior forma possível", mas eu digo que não. Assim haveria mesmo de ser e foi, e está sendo. Só não fica dizendo que me quer feliz...

"Eu tenho que aprender a dizer tudo que eu sinto por você. Eu tenho que aprender num desses seriados da tv"

Eu danço com você o que você dançar

"Em trabalhos práticos de física qualquer aluno pode fazer experimentos para verificar a exatidão de uma hipótese científica. Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer um sentimento."

quinta-feira

Não deixe de se desculpar por medo de parecer fraco.

terça-feira

Retrato em branco e preto

Estranho sonhar com a família perfeita, do tipo comercial de manteiga, todo mundo com os dentes brancos e perfeitos discutindo sobre qual manteiga é melhor e menos calórica. Fotos perfeitas, natais perfeitos, todo mundo junto e um ajudando o outro. O mais estranho de tudo isso é o fato de que eu detesto esse tipo de perfeição barata, como se a felicidade fosse algo comprado "na vendedora mais próxima", um desses cremes que tiram rugas e imperfeições do tempo. É terrível generalizar e peço desculpas de antemão aos que não pensam como eu, mas eu creio que boa parte - quiçá todas - as relações perfeitas demais são nutridas de aparências, um casamento, por exemplo. Não sei se é por que não vivi ainda relacionamentos assim, tão aparentemente sólidos, mas a visão de fora é assim: um sólido que, se furado, mostra sua parte líquida, frágil. Acho que a parte líquida é o que tem dentro da gente e que a gente se priva de demonstrar por medo, insegurança, ou para conservar aquilo que as outras pessoas enxergam. Superfícies. Enquanto isso eu bebo num gole só meu copo de água, tento limpar as lentes dos meus óculos e vejo fotos de uma família qualquer. Sinto-me assistindo um bocado de gente envolta de um álbum de fotografias rindo de bobeiras antigas, e meio minuto depois brigando porque a televisão está alta e não se pode dormir, porque se chegou tarde de um festa e detesta álbum de fotografias, enquanto o outro grita da cozinha que o macarrão de domingo está pronto. Perfeição deve ser isso... o que os que enxergam só o exterior rejeitam. Ah, nem sei se é assim mesmo que penso, disseram-me que as pessoas formam sua opinião até os 30 anos, e eu estou longe dos 30. Até lá, posso muito bem estar com as outras pessoas envolta de um álbum de fotografias ou acordando duas da tarde reclamando do barulho ou escovando os dentes branquíssimos dos meus filhos e os obrigando a sentar na mesa para comer margarina... vai saber.

domingo

Assinado eu

Levantaria um brinde hoje aos amores impossíveis, aos amores possíveis mas não concretizados, ao caos sentimental, ao não amor, aos foras, aos "bolos", às cartas que não foram entregues, ou às que foram mas não conseguiram resposta ou comoção. Brindaria tudo aquilo que parece ser ruim, mas que, na verdade, é sempre bom, por mais que a gente não perceba.
Eu quis ficar sentada observando o movimento dos teus passos lentos, tudo parecia em câmera lenta. Talvez porque, naquele momento, eu precisava pensar. Não há coisa no mundo que me incomode mais que ver minha vida passando depressa assim, sem mim. A sua vida passou lenta por um minuto, quem sabe dois, mas também de que interessam os minutos? Sei que passou, e eu não poderia enumerar a quantidade de coisas que passaram pela minha cabeça, foram muitas, milhares delas. E como se eu apertasse um botão para passar mais rápido, você correu, correu, sumiu. Eu deixei que isso acontecesse e hoje eu vejo que não foi ruim, não foi por mal. Eu precisava e ainda preciso ser feliz. Não que você impedisse a minha felicidade, mas eu me barrava. Eu projetava toda a alegria em você e nem era tudo isso, nem foi tudo isso. Mas eu decidi me permitir. Não faz sentido insistir no irremediável. Abro mão de você para não precisar abrir mão de mim. Então me levantei e dancei, dancei a música mais acelerada de toda a minha vida e tudo parecia rodar numa velocidade absurda e mudar, mudar, mudou. Como se eu acordasse assustada, abri meus olhos e percebi exatamente o que eu queria ver, a mudança. E não digo uma mudança de fora para dentro, eu continuava a dançar, mas agora mais lento, eu mudava por dentro, uma mudança minha, eu me pertencia. Olhei para os lados e não te vi. Você estava lá, eu sei, em algum lugar, mas não me interessava mais. Continuava no meio da pista de dança e alguém se aproximou, muita proximidade. Me abraçou, me envolveu, me acalmou. A música baixou, a luz baixou, todos sumiram e eu, por um momento, sumi também. Como se aquela menina no meio da pista de dança, agora acompanhada não fosse eu, como se observasse tudo de cima, para que nenhum passo fosse errado. E não foi.


"Cada vez acredito mais naquela máxima freudiana (ou metida a freudiana, nunca sei direito) de que a mulher ama, na verdade, o próprio amor que sente (ou a dor, a falta de amor, e por ai vai)."

sexta-feira

Cem gramas, sem dramas.

"Que o abraço abrace.Que o perdão perdoe. Que tudo vire verbo e verbe. Verde. Como a esperança. Pois, do jeito que o mundo vai, dá vontade de apagar e começar tudo de novo. A vida é substantiva, nós é que somos adjetivos."
'...que graça tem fazer qualquer coisa da vida sem estar apaixonada? Ô vidinha filha da puta. '

Tati Bernardi

Graça nenhuma, mas se deve fazer. 'Tô indo responder algumas questões de História, e canto ainda, baixinho: "necessário, somente o necessário"

Encontros e despedidas

Ontem minhas atenções se voltaram apenas para um fato: a morte. Estranho confessar assim que tenho medo, ou tinha, não sei. Ontem morreu o pai de um professor muito querido meu, e nós, alunos, fomos até o enterro. Não gosto de coisas desse gênero, mas ontem... ontem algo me despertou. Não que eu haveria de ter conhecido o senhor que morreu, mas o dia parecia estranho, do início ao fim. A morte deve carregar pedaço do dia e pedaço da paz. Quem morre não leva só o seu corpo, sua alma e sua matéria, leva também muita coisa de quem ainda está aqui, deixa muita história, e não há o que seque as lágrimas que ficam. Lágrimas parecem brotar, como se os sentimentos decidissem que agora é a vez deles de falar, de gritar, de reagir. Sentimento é reação. Ontem, mesmo sem conhecer, mesmo sem saber das histórias, chorei, e descobri o quão puro é sentir, sem se privar, sem se deter, só sentir. Não tive vergonha de chorar e abraçar um amigo ao lado, não tive vergonha de abraçar meu professor e dizer que ele era forte e que sabia disso. Ser forte... acho bobo desejar que as pessoas sejam fortes, ainda mais nos momentos em que o que menos se quer é seguir, entretanto, não resta mais nada a se desejar. Voltamos para a escola, todos os meus professores muito abatidos, os alunos também. Nenhum comentário "maldoso", essas coisas assim, dignas de adolescentes. O dia estava mesmo no fim, e não passava das 5 da tarde. Já era muito tarde, embora muito cedo. Tudo bem, voltei para casa, e por mais triste que fosse, voltei para casa como se nem tivesse no enterro, e fui caminhar. Tenho caminhado muito nestes dias. Olhando para o chão, encontrei um passarinho pequenininho, tão encolhido e morto. Lembrei-me da tarde. A morte é mesmo uma coisa que, por mais que não admire e seja raríssimo falar ou escrever sobre, uma coisa pura. Não escolhe. Seja lá um homem que, segundo dizem, nunca perdeu uma briga ou um passarinho que, por descuido, caiu do ninho.



"A solidão é cheia de boas intenções"