terça-feira

Retrato em branco e preto

Estranho sonhar com a família perfeita, do tipo comercial de manteiga, todo mundo com os dentes brancos e perfeitos discutindo sobre qual manteiga é melhor e menos calórica. Fotos perfeitas, natais perfeitos, todo mundo junto e um ajudando o outro. O mais estranho de tudo isso é o fato de que eu detesto esse tipo de perfeição barata, como se a felicidade fosse algo comprado "na vendedora mais próxima", um desses cremes que tiram rugas e imperfeições do tempo. É terrível generalizar e peço desculpas de antemão aos que não pensam como eu, mas eu creio que boa parte - quiçá todas - as relações perfeitas demais são nutridas de aparências, um casamento, por exemplo. Não sei se é por que não vivi ainda relacionamentos assim, tão aparentemente sólidos, mas a visão de fora é assim: um sólido que, se furado, mostra sua parte líquida, frágil. Acho que a parte líquida é o que tem dentro da gente e que a gente se priva de demonstrar por medo, insegurança, ou para conservar aquilo que as outras pessoas enxergam. Superfícies. Enquanto isso eu bebo num gole só meu copo de água, tento limpar as lentes dos meus óculos e vejo fotos de uma família qualquer. Sinto-me assistindo um bocado de gente envolta de um álbum de fotografias rindo de bobeiras antigas, e meio minuto depois brigando porque a televisão está alta e não se pode dormir, porque se chegou tarde de um festa e detesta álbum de fotografias, enquanto o outro grita da cozinha que o macarrão de domingo está pronto. Perfeição deve ser isso... o que os que enxergam só o exterior rejeitam. Ah, nem sei se é assim mesmo que penso, disseram-me que as pessoas formam sua opinião até os 30 anos, e eu estou longe dos 30. Até lá, posso muito bem estar com as outras pessoas envolta de um álbum de fotografias ou acordando duas da tarde reclamando do barulho ou escovando os dentes branquíssimos dos meus filhos e os obrigando a sentar na mesa para comer margarina... vai saber.

2 comentários:

... disse...

Quem sabe uma vez na vida eu possa ter um dia comum.
Um dia de sol, onde eu seja apenas mais um.
Perdido em pensamentos, sem pressa, mas, em tempo de fechar a porta...deixar meus problemas, do lado de fora.
Quem sabe uma vez na vida...

... disse...

Dona Maria...a dona dos problemas do mundo, rsrsrs...