quinta-feira

Brand new start

"Saiba, o caminho é o fim, mais que chegar" (Little Joy, tal como o título).
Sem me entristecer, digo que o blog amores-requentados chegou ao fim. Deixei aqui registrado cada oportunidade boa de viver, de sentir e até de sofrer. Amar é isso. Requentar os amores é vivê-los sempre, contá-los sempre. E sei que não deixarei de fazer isso, de contar dos amores, de reviver e rever os amores. Mas o amores-requentados hoje diz adeus.


sábado

Chuva

Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz.
(Tom Jobim)


O furacão parece girar, girar e não encontra forças para parar. Sinto-me fechada para reformas, fazem bagunça, arrastam as cadeiras e chove, chove muito. Achei Deus de uma pertinência imensa quando, hoje de manhã, abri minhas janelas e vi que o dia de sol ontem tinha se feito em nuvens e neblina. O sol era, talvez, do tamanho de uma bola de bilhar escondido, escondido em mim também. Uma nuvem de chuva se instalou um pouco sobre mim. Acho que eu queria me esconder tanto quanto o sol e deixar doer e poder chorar sozinha e poder sentir sozinha uma dor que parece nunca mais passar. É preciso aceitar que as flores, então, nascem para depois ir embora. A gente cultiva enquanto pode e depois que elas se vão não se pode fazer nada. Eu choro, eu choro porque sinto saudade, sinto um vazio que não sei se vão conseguir encher de terra. A flor se foi e deixou um buraco no chão. Deixou nuvens cheias de chuva nos meus olhos que ardem, ardem porque não sabem mais chover. Levaram com raiz e tudo e no fim sobrou o chão. Eu, chão, não posso ser egoísta e prender a minha flor quando ela precisa ir. Não posso. Engulo meu egoísmo, engulo minhas lágrimas. Eu não fui um chão ruim, mas às vezes fui cimento ao invés de terra. Minha paciência se esgotava rápido, eu fiz o que pude mas não fiz o máximo. Eu queria ter tido mais tempo, eu queria poder ter abraçado ao menos uma vez. Eu nunca abracei a minha flor. E ela foi embora levando toda a vontade de, talvez, abraçar os outros. Deixou só esse vazio que vão cuidar de tapar, eu sei que vão. O tempo, as pessoas e eu mesma, quem sabe. E vai sarar, eu sei que vai. E vai parar de doer, mas não sei quando, se é que o quando existe. Até minhas palavras falam qualquer coisa que, de tão, não sei sentir.





Para a minha avó, que me deixou ontem.

quarta-feira

Mundaréu de estrelas

Fé na vida, hermana, fé no que virá.
(Ana Jácomo)

Eu sinto sua falta. Aqui, ali, hoje e ontem. Nossa amizade me fez ver tanta coisa boa, tanta coisa bela. Sinto falta de ouvir um "Amiga, não se ilude", ou de cantar qualquer música usando uma garrafa qualquer de uma bebida qualquer. Eu sinto falta de poder te ligar: "Oi Mandy, não tenho nada de muito bom pra contar" e os assuntos surgiam e por aí iam mais ou menos uma hora de telefonemas. Eu não sei muito bem o que eu quero te dizer, porque eu não queria precisar escrever nada: eu queria estar aí, poder te ligar, subir aí na sua casa que é tão longe da minha. Na verdade, eu estou aí, de tanto que quero estar. E te desejo toda a paz, toda a vida, toda a luz, tudo. Todo o amor, toda a vontade de viver, de querer estar bem. E que, por mais que venham alguns problemas, que você não desista nunca. Não desista de sonhar. E "quero que haja sempre uma cerveja em sua mão e que esteja ao seu lado seu grande amor".
Feliz aniversário.

(e, não se esqueça de dois pontos por demais importantes: "nenhuma folha de árvore cai se não for da vontade de Deus" e o quanto nossa amizade é valiosa pra gente porque mesmo que mude, nada há de mudar).
[título extraído do texto: Com fios de amor]





terça-feira

Demasiadamente

Dear,
se quiser procurar: não precisa. Cá está seu texto. Sem nomes, sem dores antigas, sem sentimentos intensos. Sou eu: eu. Com pressa, com provas, com vida. Sou eu. Mas você conhece bem, você sabe como é. Você sabe cada pedra que eu temo e sempre temi pisar. Você sabe de tudo e, se isso fosse um jogo - se me permite a comparação - eu não poderia blefar. Simplesmente por não saber fazê-lo. Ou por não conseguir.
Eu estou aqui, vivendo estudado me apaixonando e sentindo, e veja só como são as coisas: mesmo com essa memória fraca consigo me lembrar. E comento com algumas pessoas: "três anos, amor adolescente pra lá de insistente, né?!" E as pessoas comentam: "você é boba, contando dias, lembrando datas". É, sou boba. Marco encontros anuais com a minha memória, com o baú das coisas boas que sobraram do que passou. E passou. E passa: eu fico. E fiquei em todas as outras vezes, e deixei todas as outras pessoas irem embora como você continua indo, mas não vai. Sempre se lembra de olhar para trás, principalmente em dias como hoje. "Esqueceu amarrada a canoa na beirada", não adianta tanto remar. A memória tem um compromisso conosco. O de nos fazer rever mesmo quando desejamos com veemência seguir. Mas eu não olho hoje com aquele quê de nostalgia, de dor por ter se passado, por ter deixado que pessoas como você partissem. Não dói. A memória, em especial neste ano, fez aparecer coisas especiais que me fizeram ter felicidade em pensar que vivi coisas tão boas e que você foi igualmente bom para mim. Não seria o que sou hoje, sempre digo. Não quero que reviver nada, não desejo que você me ame como já me amou, porque a vida, afinal, precisa passar, as horas do relógio, dear, não esperam por ninguém, nem por nós (épicos heróicos românticos, diria Caio Fernando Abreu). Não desejo nada. Mas sei que sinto um carinho muito bom por você, pelo dia de hoje, pelas cartas na pasta, pelos pinguins, pela minha memória fiel e por mim.
Até ano que vem,
Assinado: eu (como na música da Tiê)

domingo

"Quanto setembro vier

de tão azul o céu parecerá pintado". Havia festa em algum lugar hoje, sei disso. Algumas pessoas escrevendo e sonhando e vivendo amores não realizados e realizados - por que não? - e esperando as cartas os telefonemas os gestos as decisões. O mundo corria normalmente - como sempre faz - e as pessoas viviam como sempre viviam. Ou não. Mas alguém notou o céu. De tão azul, parecia que alguém teria derramado um balde de tinta. Acho que algumas pessoas pararam hoje para olhar o céu. Eu tive ciúmes: o céu era tão teu que o queria só pra mim. Tive ciúmes dos tantos que liam algum conto teu, alguma coisa escrita com beleza, porque eu não parei um segundo. Mas olhei para o céu. E pensei: "Caio foi esperto, derramou foi tinta no céu todo". Pensei em você em alguns momentos do dia, pensei em você com força e carinho.

Onde quer que esteja - parece pretensão demais, eu sei - deve ter notado. Uma amiga me disse que quando a gente pensa com força em alguém, esse alguém sente. Pode sentir?

No céu, existiu uma festa hoje. Derrubaram tinta no chão do céu.

E, um último pedido: que seja doce aí. Por aqui vai tudo bem.




Para Caio Fernando Abreu.
Com carinho.

quarta-feira

Enquanto isso

Uma amiga me disse agora que "a gente não deve ser menor que nossos sonhos". Acho que meus olhos, se os dias fossem outros, se encheriam de lágrimas. Se os tempos fossem outros. As coisas mudaram muito e eu já estou me acostumando a ter um sorriso no rosto mesmo depois daquela noite que não dormi bem, ou num dia de coração bagunçado.
Não tenho muito tempo de escrever mais. Acho que tempo até tenho. Não tenho são as palavras.
E não quero ser menor que meus sonhos. Mesmo que eu não saiba quais são.


Setembro é um mês em que, já diria uma música: "Portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar". Eu espero, sentada no tapete da sala.

Sem você sou pá furada.

Querido Leonardo,
Hoje foi um dia todo atípico, todo estranho. Os dias aqui não são os mais normais, sei disso, mas hoje foi ainda mais diferente. O dia estava lindo, lindíssimo. Nem consigo me lembrar ao certo tudo o que houve, mas sei que foi um dia lindo. Como o dia em que levava seu disco do Queen e, no caminho, notei quão grande era a beleza das coisas. É difícil notar isso, é sempre tanta correria que eu sei lá. Mas o estranho do dia é que não posso te abraçar, bem forte, nem dizer o quanto te desejo tudo de melhor do mundo. E te desejo, mesmo que não diga. Nem estou perto suficiente para me incomodar por você parecer não dar a mínima para uma série de coisas que eu sinto e só agora te digo: às vezes você não liga mesmo, não dá a mínima. Mas eu não me importo tanto e, se me importo, passa logo. Eu queria dizer qualquer coisa bonita, mas o necessário é que você saiba a vontade imensa que estou de te abraçar forte, e receber teu abraço também. Você deve achar tudo isso piegas, não é? Pode achar. Sei que não te acompanho sempre e sei que fico tempos sem aparecer e, quando apareço, nem apareço mesmo, nem pareço a mesma. Eu sei de tudo, Léo. Nosso contato se perdeu muito nos últimos dias e eu não consigo manter uma conversa mais cheia de bobagens no msn com você, como antes. Mas eu sei que não foi intencional, e que não é. Nós dois nutrimos um apreço grandíssimo por essa amizade de anos, tenho certeza. Você é o meu melhor amigo e sempre vai ser, mesmo que a gente nunca mais se fale e que nos distanciemos a tal ponto que sejamos incapazes de saber como foi o dia do outro. Você sempre vai ser meu melhor amigo porque, simplesmente, sem você não dá muito pra ser. Porque, sem você, "sou pá furada" (e essa é nossa frase, não é? Desde 2007), e pá furada não serve de nada. Você está aqui comigo, todo o tempo. Eu estou aí com você também, todo o tempo. Eu não vou te abandonar, Leozinho, por nada. Eu posso ficar décadas sem te ver, mas sei que te reconheceria em qualquer lugar (e não digo apenas pelos cabelos ruivos ou senso de humor peculiar), reconheceria porque não há ninguém no mundo igual a você.
Com tudo isso, eu só queria mesmo dizer que seu aniversário abre o meu mês favorito. E que eu desejo para você qualquer coisa que você também deseje muito. Feliz aniversário.
Com (muito) carinho,

Maria Carolina.