domingo

Suburbano coração

Precisava conversar... pegaria o telefone e ligaria para qualquer pessoa para contar o que se passa. Mas eu ao menos sei o que se passa, eu não sei para quem ligar. O fardo ficou pesado demais e ontem conclui (concluimos, bem sei) que é impossível pular fora "é o limite, não dá mais para desistir". Na verdade, ontem foi um dia de conclusões que hoje me pesam, fico nervosa e choro. Quase sempre o nervosismo é acompanhado de choro ou medo do que acontecerá amanhã. Os capítulos da vida se encerram e dá medo do próximo, medo de não conseguir virar numa dessas esquinas que a vida tem. Hoje não sei se seguir em frente, sem curvas, é de fato a melhor solução. Ontem peguei apressada uma estrada curvilínea, e enquanto meu estômago teimava em se embrulhar, eu me forçava a não pensar nas conclusões. Um céu, um sol, água, amigos, conclusões, nervosismo, choro. Ciclo. Estranho perceber que, por mais especial que as pessoas dizem que você é, não te torna importante. Pessoas "especiais" estão cada vez mais sozinhas, procurando simplicidade na confusão, ordem. Pessoas "racionais" servem basicamente para cálculos matemáticos. Tudo bem, tudo bem, esta não é a regra, até porque tenho muitas amigas e amigos especiais que se encontraram em algum caminho. Talvez seja sina e eu sempre arrumo um jeito de generalizar para não me sentir ainda mais sozinha, como quando ligo a tv para dormir sem o medo de escutar barulhos na rua. Invenção. Um dia li algo de Caio Fernando que dizia: "Inventar é uma das melhores coisas da vida" e é. Inventar é fabuloso. Viver na invenção não, mas inventar uma coisa ou outra para fazer o medo dormir é fantástico. Vou procurar hoje no céu uma estrela cadente e fazer um pedido. Qualquer pedido...

sexta-feira

Relógio

"E você me olha com essa carinha banal de "me espera só mais um pouquinho". Querendo me congelar enquanto você confere pela centésima vez se não tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E sempre volta. "

(TatiB.)

De acordo com o horário de Brasília, são 14:16. Pensei por um minuto no que escrever. São 14:17, e sabe, eu não vou atrasar meu relógio para esperar que você vomite seu coração. 14:18, o tempo não vai parar, amor, não vai.

quarta-feira

Cólica

Sabe que as vezes eu penso que amor nem é tão amor assim? Pois é, e acho que tudo que eu pensava ser e não era me rendeu bons textos, acho que o amor tem suas utilidades, para mim, o amor me ajuda a escrever. Sempre achei que amor fosse a razão pela qual as pessoas mudavam suas vidas para se adaptar às outras e que não acabava. Mas acaba. No primeiro sinal de fraqueza, acaba. Comigo, acabou todas as vezes e acabará todas as outras que ainda virão, não, não pense que eu falo assim com tristeza, pessimismo, falo por realidade. Conto de fadas por conto de fadas, compro um livro e devoro. Acho que amor pode ser também um acúmulo de memórias, necessidade, falta. Mas falta de que se, afinal, nascemos completos? Sinto falta de quando era criança, e acordava sem pensar em que roupa vestir ou o que dizer para agradar. O amor tranforma tudo, e a falta ou necessidade dele também. Eu estou me transformando, seja lá por falta ou carência.

domingo

meu caro amigo

Venha aqui pra me buscar, me leve para passear no seu disco voador

Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera. Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é? A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? A moça... ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera? E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário... por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.

Caio Fernando Abreu.

quarta-feira

Setembro

"Gosto das tuas notícias e do teu feeling. Claro, claro que vem. O amor tá solto no ar de setembro (chega — wow! — amanhã) e já vimos tanta coisa e já sabemos de tantas outras que não vamos entregar a rapadura assim no mais, chê. Ando cheio de fé."

segunda-feira

". . . e eu concluo que, de alguma forma, nossa ligação mental? espiritual? psicológica? continua sempre muito forte."

De início digo que isto já estava escrito, mas resolvi mudar tudo, começar do zero. Hoje, sete de Setembro, feriado nacional. Neste mesmo dia, há dois anos atrás, eu te notava de forma imensa e, é claro, de um grande amor.
Sempre que penso no que escrever nesta "carta" de dois anos, me lembro da carta de um ano em que seguia uma pergunta mais ou menos assim: "Onde estaremos ano que vem? Como estaremos no outro ano?". Aqui estamos nós. Eu, com os mesmos problemas de sempre, você, com os mesmos problemas de sempre, é inegável, ainda somos os mesmos. Bêbados de nostalgia, chorando o leite derramado e negando tudo para tentar dar dois passos para frente e um para trás. Sempre assim, dois anos sendo assim, quem sabe a vida inteira? Eu não posso e nem quero prever o que será daqui pra frente, mas não custa pensar um pouquinho sobre.
Estranho comemorar assim os dias 14, lembrar, ainda que nos dias mais quietinhos, de como poderia ser e não foi. Estranho, já que as outras datas são irrelevantes. O mês de setembro, sempre com aquele ar de primavera, aquele ar de "está chegando, meu Deus, está chegando", aqueles comentários "se estivessemos juntos, completaríamos 2 anos", estranho, mas não me poupo desses comentários desde que setembro começou.
"Nós temos uma foto aqui" penso, ainda que com poucos momentos registrados pelas máquinas fotográficas. Sabe, para mim isso nunca importou, nunca me importou os álbuns de fotografia. Me importava o vinil com o teu nome na porta do meu quarto, me importava o que eu pensava sobre nós, ninguém precisava de provas sobre o que era explícito, ninguém precisa.
Sabe que pensar no nosso amor me traz os 5 sentidos à tona? A começar pelo olfato, cada cheirinho de perfume pelo ar, a audição perdida entre trechos de músicas que me lembravam e lembram você, paladar tão doce de bombons após a aula, tato para descrever situações, visão clara do horizonte que traçamos juntos. Todos juntos, num coquetel de nostalgia. Nós escrevemos um belo livro, com um romance que despertaria inveja até nos mestres, como Caio Fernando Abreu ou Lispector. Um romance tão belo que, para quem conto, não acredita ser real. E foi real? Para nós foi. "pois queríamos ser épicos heróicos românticos descabelados suicidas, porque era duro lá fora fingir que éramos pessoas como as outras" Nós não éramos como os outros, éramos diferentes, éramos clássicos, mágicos. Dançávamos na rua sem nos importar com a opinião ou com a reprovação. E quando penso em nós, sempre penso também nesta sensação de dançar na rua, pisando em astros distraídos.
É bom saber que, ainda com os anos passando, continuamos presentes na vida um do outro, é bom saber que tem você, seja lá onde você estiver... De uma mesma proporção é bom ver você sabendo do que acontece comigo, ainda que eu não te conte. É bom não ve indiferença, é bom... é bom...
Suas cartas estão guardadas, o sentimento também, todo o afeto, a amizade, a cumplicidade. Minhas cartas são a grande herança que te deixarei. Feliz dois anos, que coisa mais entranha de ser dizer, o que me arranca alguns risinhos sempre que penso em dizer.
Fico feliz em te ver feliz, e te ver com alguém que pode te fazer o bem que não fiz. Escreve os teus capitulos do livro, fico feliz em ler sempre, está história ainda é nossa. E por mais que apareçam alguns personagens novos, esta história leva o nosso nome e a nossa assinatura. Fique bem, trate de ficar sempre feliz e com o melhor sorriso estampado neste rosto! Um grande abraço, Maria.

"E nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas para contar. E até lá, vamos viver,temos muito ainda por fazer. Não olhe para trás
- Apenas começamos.
O mundo começa agora
- Apenas começamos."


"Olha, eu sei que o barco está furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também...
Quem diria que viver ia dar nisso?"
Nossos infinitos barcos, e uma garrafa de vinho pela metade.

"Descobri que a maioria das pessoas que conheço me desvitalizam. E eu não vou permitir mais, nunca mais."

Preciso de um remédio para tristeza, existe?

quarta-feira

uma coisa em mim diz olha, pedir socorro neste caso é inútil, ninguém pode ajudar ...

Eu escrevo teu nome nessas pedras, que vou jogando por onde passo. No fundo, espero que você me siga, mas não tenho coragem de pedir. Aí, tem gente que vem, sem nem ser chamado, sem nem se importar com o fato do nome escrito ali , ser outro. As pessoas não ligam pr´essas pequenezas, sabe? Eu ligo. Ligo pra tudo. Sou mais de detalhes, que do todo. Sempre fui. O fato é que fico olhando pra trás pra ver se você tá vindo e já tropecei umas quantas vezes. Esses dias mais. Isso porque não sinto teu cheiro no ar, não ouço o teu riso passeando pelas horas. E sinto falta. E sinto um quase-medo. Embora, não tenha a menor idéia de quê. Sabe quando você pressente o monstro no escuro, mesmo sem poder vê-lo? É assim. Não sei se você entende, não sei se alguém entende e, realmente, não me importo. Não me importo mais com um monte de coisas. Dos benefícios do tempo. Hoje, parei e sentei bem aqui na beira desse rio que me atravessa. Só pra te pensar bem forte e te fazer sentir amor do lado de lá. Sim, porque você ainda não atravessou a ponte, bem sei. Mas, ando me sentindo fraca e cansada. Tenho andado demais, jogado pedras demais, esperado demais e você não me alcança. Talvez, seja melhor mergulhar e afogar os pensamentos. Espero que você consiga chegar a tempo e salvar os mais bonitos.

Briza Mulatinho
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'Que todo mundo tenha um amor quentinho. Descanso pro complicado do mundo. Surpresa pra rotina dos dias. A quem esperar. De quem sentir saudades. Um nome entre todos. O verso mais bonito. A música que não se esquece. O par pra toda dança. Por quem acordar. Com quem sonhar antes de dormir. Uma mão pra segurar, um ombro pra deitar, um abraço pra morar. Um tema pra toda história. Uma certeza pra toda dúvida. Janela acesa em noite escura. Cais onde aportar. Bonança, depois da tempestade. Uma vida costurar na sua, com o fio compriiiiido do tempo.'


[Briza Mulatinho]


O amor é tão belo mas pensar nele quase semrpe me deixa triste.