terça-feira

Demasiadamente

Dear,
se quiser procurar: não precisa. Cá está seu texto. Sem nomes, sem dores antigas, sem sentimentos intensos. Sou eu: eu. Com pressa, com provas, com vida. Sou eu. Mas você conhece bem, você sabe como é. Você sabe cada pedra que eu temo e sempre temi pisar. Você sabe de tudo e, se isso fosse um jogo - se me permite a comparação - eu não poderia blefar. Simplesmente por não saber fazê-lo. Ou por não conseguir.
Eu estou aqui, vivendo estudado me apaixonando e sentindo, e veja só como são as coisas: mesmo com essa memória fraca consigo me lembrar. E comento com algumas pessoas: "três anos, amor adolescente pra lá de insistente, né?!" E as pessoas comentam: "você é boba, contando dias, lembrando datas". É, sou boba. Marco encontros anuais com a minha memória, com o baú das coisas boas que sobraram do que passou. E passou. E passa: eu fico. E fiquei em todas as outras vezes, e deixei todas as outras pessoas irem embora como você continua indo, mas não vai. Sempre se lembra de olhar para trás, principalmente em dias como hoje. "Esqueceu amarrada a canoa na beirada", não adianta tanto remar. A memória tem um compromisso conosco. O de nos fazer rever mesmo quando desejamos com veemência seguir. Mas eu não olho hoje com aquele quê de nostalgia, de dor por ter se passado, por ter deixado que pessoas como você partissem. Não dói. A memória, em especial neste ano, fez aparecer coisas especiais que me fizeram ter felicidade em pensar que vivi coisas tão boas e que você foi igualmente bom para mim. Não seria o que sou hoje, sempre digo. Não quero que reviver nada, não desejo que você me ame como já me amou, porque a vida, afinal, precisa passar, as horas do relógio, dear, não esperam por ninguém, nem por nós (épicos heróicos românticos, diria Caio Fernando Abreu). Não desejo nada. Mas sei que sinto um carinho muito bom por você, pelo dia de hoje, pelas cartas na pasta, pelos pinguins, pela minha memória fiel e por mim.
Até ano que vem,
Assinado: eu (como na música da Tiê)

Nenhum comentário: