domingo

Assinado eu

Levantaria um brinde hoje aos amores impossíveis, aos amores possíveis mas não concretizados, ao caos sentimental, ao não amor, aos foras, aos "bolos", às cartas que não foram entregues, ou às que foram mas não conseguiram resposta ou comoção. Brindaria tudo aquilo que parece ser ruim, mas que, na verdade, é sempre bom, por mais que a gente não perceba.
Eu quis ficar sentada observando o movimento dos teus passos lentos, tudo parecia em câmera lenta. Talvez porque, naquele momento, eu precisava pensar. Não há coisa no mundo que me incomode mais que ver minha vida passando depressa assim, sem mim. A sua vida passou lenta por um minuto, quem sabe dois, mas também de que interessam os minutos? Sei que passou, e eu não poderia enumerar a quantidade de coisas que passaram pela minha cabeça, foram muitas, milhares delas. E como se eu apertasse um botão para passar mais rápido, você correu, correu, sumiu. Eu deixei que isso acontecesse e hoje eu vejo que não foi ruim, não foi por mal. Eu precisava e ainda preciso ser feliz. Não que você impedisse a minha felicidade, mas eu me barrava. Eu projetava toda a alegria em você e nem era tudo isso, nem foi tudo isso. Mas eu decidi me permitir. Não faz sentido insistir no irremediável. Abro mão de você para não precisar abrir mão de mim. Então me levantei e dancei, dancei a música mais acelerada de toda a minha vida e tudo parecia rodar numa velocidade absurda e mudar, mudar, mudou. Como se eu acordasse assustada, abri meus olhos e percebi exatamente o que eu queria ver, a mudança. E não digo uma mudança de fora para dentro, eu continuava a dançar, mas agora mais lento, eu mudava por dentro, uma mudança minha, eu me pertencia. Olhei para os lados e não te vi. Você estava lá, eu sei, em algum lugar, mas não me interessava mais. Continuava no meio da pista de dança e alguém se aproximou, muita proximidade. Me abraçou, me envolveu, me acalmou. A música baixou, a luz baixou, todos sumiram e eu, por um momento, sumi também. Como se aquela menina no meio da pista de dança, agora acompanhada não fosse eu, como se observasse tudo de cima, para que nenhum passo fosse errado. E não foi.


"Cada vez acredito mais naquela máxima freudiana (ou metida a freudiana, nunca sei direito) de que a mulher ama, na verdade, o próprio amor que sente (ou a dor, a falta de amor, e por ai vai)."

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