terça-feira

Sobre as estrelas.

-Todas nós nos aprontamos depressa. Era uma ocasião sempre muito importante quando ela, a menina, se deitava no seu gramado para nos olhar. Queríamos era competir, cada uma a seu modo, queríamos brilhar muito naquela noite. Ainda era tarde e alguém nos avisou que ela se deitaria hoje às nove, e que nos olharia até as onze, e depois iria chorar. E a gente tinha sempre o dever de se afastar, aproximar, tudo ao modo e para agradar a visão da menininha. Não sei, ainda não sei por que competíamos tanto o olhar dela, sempre doce. Mas eu não queria me arrumar, nunca quis. Ainda mais num céu com nuvens como haveria de estar essa noite. Marte brilhava tanto, impossível superar. Então era melhor mesmo me esconder. A noite se aproximou e com pouco brilho resolvi ir em frente. A noite chegou de mansinho e a menina no gramado se deitou. Tateou estrela por estrela, para ver qual mais caberia nos seus sonhos. Olhou para Marte com certo desdenho que me fez, ao fundo da alma, sorrir. Mas eu estava tão escondidinha e tão sozinha, tive medo que a menina me olhasse com seus olhos doces. Ela, a menina, viu o mundo girar e anotou ponto a ponto. E se perdendo em sonhos e temores, encontrou-me. Eu estava lá, no mesmo lugar escuro do céu. Ela me viu e de imediato começou a chorar. Chorar chorar chorar sem nenhuma pausa. Não sei o que se passava em sua cabeça. Ainda era tão noite. Tenho pena da menina.
-Deitei-me mais uma noite para olhar o céu. Noites me fazem pensar que só. Pensar, por vezes, enche-me de desespero e transborda solidão. Incrível. Deve ser o poder encantado das estrelas. Não sei qual seria o meu sonho de hoje, mas procurei sem cessar a estrela que melhor caberia nele. Marte brilhava tanto, e eu sabia que era Marte porque planetas brilham mais que estrelas. Brilho demais, não me cabia tanto. Procurar, procurar. Encontrei uma estrela tão perdida, tão apagada e tão só que senti pena. Não dela, mas minha. Como se me olhasse no espelho e visse tudo aquilo que era difícil de perceber. Eu me encontrei, por isso dei de chorar rios e rios. O choro pode fazer ter um ar triste, mas não. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Estrelas pequenas tem um céu imenso só para elas, um infinito. Não se prepararam para agradar os olhos, mas agradam mesmo assim. Assim seja, amém.

Um comentário:

Paola Vitali disse...

"Estrelas pequenas tem um céu imenso só para elas, um infinito. Não se prepararam para agradar os olhos, mas agradam mesmo assim. Assim seja, amém."

Você é uma estrela de todos os tipos, de todos os tamanhos. É tudo! Sinto tanta orgulho do seu tudo!