quarta-feira

contato (i)mediato

Caro senhor,
Peço, desde o início, que compreendas o quão inábil sou com as palavras. Não as tenho em meu domínio, na verdade, creio até ser o contrário.
Peço, também, que perdoe minha intromissão, pois sei que não querias se revelar. Mas é preciso dizer, sim, é preciso dizer.
Há anos acumulo uma bagagem emocional pra lá de bagunçada. Choros pra cá, sorrisos pra lá, amores retribuídos ou platonites agudas. Dito assim parece até haver equilíbrio, mas não há, nem houve. Essa bagagem é inflada de cartas, e eu sou demasiadamente apaixonada por elas, cartas são meus objetos de lembrança, parecem ter cheiro - cor - vida própria. As tuas, por sinal, guardo dentro duma caneca branca, caneca nunca usada para um café no meio da tarde. Caneca: só caneca. Entretanto, mais que um café e gotas de adoçante, esta vem sendo capaz de comportar cada pedaço bem cuidado de entrelinhas. Noto a caneca agora: parece ter cheiro - cor - vida própria também.
O objetivo maior deste bilhetinho, caríssimo, é saber por onde andam ou andaram teus pés descalços e porque decidiram colidir com os meus sem que sentíssemos. Sem que pudéssemos nos ver, sem que pudéssemos saber quem somos. Você gosta das minhas palavras, porque, mesmo sem freios, parecem ser o que há de melhor em mim.

Mas são?

Não aguardo respostas.
Não espero notícias.

Com carinho,
Ana.

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