domingo

Deveras.

Meu,
Vê só, já é quase noite e o tempo passou tão rápido. Estou colocando todas as roupas na mala azul, aquela mala azul, sabe? Será que foi culpa nossa o tempo passar rápido assim? Amanhã eu estou indo, em direção ao temporal. Não, amanhã não. Na verdade, é um outro dia. Amanhã, que também não amanhã, colocarei meu vestido colorido para seguir em direção ao neutro de uma festa de formandos. Não vais me acompanhar, eu entendo. É tanta coisa na mala, não muita roupa, nem muita cor. Sabe o que é? É muita saudade, coloquei tudo dentro da mala e só vou abrir quando lá chegar. Ah, pede pro tempo parar de correr, por favor, por favor... me cansa tanto falar do tempo, ainda mais num domingo tão quente assim, tão preguiçoso assim. Conheces minha antipatia com os domingos. Lancei os dados, deu três, ande três casas, "você atropelou a sua vida, fique uma rodada sem jogar" uma, duas, fico todas as rodadas e sou punida no jogo da vida. Pronto, entreguei a ti os pontos e de novo, de novo, vencestes. Convida-me para mais uma partida, estou cansada. Meu jogo continua parado e a frase martela ferozmente em minha cabeça "você atropelou a sua vida, atropelou, atropelou...", mas com que carro? Diz, diz! Não tenho carro, mas atropelei mesmo assim, tropecei nos meus passos e devo ter caído no caminho, perdido-me no caminho. É isto que quer dizer atropelar? Quando a gente erra, erra mesmo sem ter um carro para atropelar, a gente toma rodas e trata de fazer o trabalho sozinho. O ser humano ama o erro, diz que não, mas ama, se não amasse, não acordaria e erraria qual pé colocar primeiro para fora da cama, eu coloco sempre o direito, para evitar qualquer distração. Mas evito ainda de lançar os dados, amor. Atropelar, é o verbo do dia. Não atropeles, não! Cuida-te amor, meu mais doce abraço. Um cheiro,
Tua.

Um comentário:

Paola Vitali disse...

Sua escrita tão bem feita me alimentar. Eu sobrevivo por pensar que existem pessoas maravilhosas como você!