segunda-feira

Se tudo parecer errado

Esta não é, nem de longe, a melhor carta que você leu. É só a verdade, toda a verdade, do início ao fim. Tudo aquilo que, por covardia, eu te escondi. Tudo aquilo que você precisava ver e não viu por covardia. Tudo o que a covardia fez conosco e, é claro, tudo o que somos hoje.

Contei cada manhã que acordava sem saber se você estava vivo, se estava bem. Passei seis meses acordando e indo dormir com uma ressaca de sentimentos e com a teimosia de me embriagar de não-amor no dia seguinte, de novo. Eu passei todo esse tempo assim, mas você não viu.

Antes de tudo isso, é inegável, fui muito feliz. Agradáveis ventos primaveris me bagunçavam os cabelos, mas não era real. Talvez o erro foi este, crer que uma história era tão bela sem se lembrar que coisas belas assim não aconteceriam. Mas você não sabe disso.

O tempo passou e eu estou cada vez mais fora do seu campo de visão. E, embora nem eu mesma acredite, o tempo passou para mim também. O tempo, sempre exato. Eu fui te anulando, te apagando, te esquecendo. Por livre-arbítrio. Tem horas que cansamos sabia? Cansei de inventar um personagem em você e de adorar cada feito desprezível seu. Cansei.

Quando você menos percebia, eu estava de longe, analisando cada mínimo gesto seu. Queria mesmo era notar teus erros, para passar a odiá-los, não consegui. Eu só passava a te amar, mais e mais, de uma forma burra e real.

Eu passei a correr, todos os dias, para mais longe. Se tentar odiar não funcionava, ficar longe deveria resolver. Pode parecer incrível dito assim, mas estava conseguindo. Meu porte atlético, que não era dos melhores colaborou e me surpreendeu. Eu estava ficando feliz e nem me comparava mais às mocinhas sofredoras das novelas mexicanas. Eu corria sem rumo, mas não importava o rumo, importava a distância. Entretanto, quando pensava que estava distante demais, você me segura pelos ombros e me pede para voltar, que está chegando o nosso tempo e que não quer mais que eu te esqueça e corra assim de você. Ah, como eu odeio esse tal de amor. Eu, cega, voltei sem hesitar. Confundi-me, mas sorria de forma segura. Sempre me confundindo com o estável e o instável. Tá tudo errado.

Sempre tudo errado, os discos velhos tocando uma música que eu não agüento mais ouvir. E hoje eu estou exausta para dançar. Deve ser porque não agüento mais balançar sozinha neste tango, andar sozinha nesta corda bamba, escrever sozinha uma história de amor que vivo sozinha. Cansei de estar sozinha e de saber desta solidão. E vou dormir.

Tudo isso é embaraçoso. Faz parte do meu show, fazia parte do seu. Hoje estou encerrando todo o incerto que construí. Não ficou bonito não, não dá para morar nesta construção, mas dá para derrubar e eu estou derrubando. Dia após dia, derrubando tijolo por tijolo. Estou encerrando também todo este amor não recíproco, estas sortes lançadas, tirando as cartas da mesa e te esquecendo, pela última e mais concreta vez. Esquecendo-te por gostar tanto e, assim, nos deixar viver. Toma esse texto, o único lugar seguro e eterno pra gente.

“E você continua escrevendo sua história pulando linhas, errando palavras, esquecendo os títulos. E eu continuo escrevendo seu nome com letras cheias, para tentar preencher você de alguma maneira. Pra tentar deixar tangível a sua existência. E principalmente pra poder amassar o papel e jogar no lixo.”

Nenhum comentário: