quinta-feira

De Maria, para Maria.

















Nunca me dei ao luxo de escrever algo sobre mim, Maria Carolina Marchioni da Silva, a essência, e não o que os amores requentados fizeram com que ela se tornasse... Não, não essa Maria Carolina. A menina que acorda todos os dias preocupada com as notas da escola, com os problemas dos amigos, com o almoço. A menina que não gosta de se olhar no espelho e tem medo de errar. A menina que ama rotina, que vive na rotina, que pisa sempre nas mesmas pedras da calçada na hora de voltar para casa. É sobre essa Maria que escreverei hoje, a Maria que conheço tão bem mas que, vez ou outra, me surpreende.
Tudo começou em 19 de julho de 1994, não, eu não sei se chovia ou fazia sol, mas naquele dia algo estava para mudar. Também não posso dizer se o Brasil ganhou ou perdeu a copa de '94, não tem nada sobre futebol aqui, mas sei que naquele dia nasceu uma menina, que ganhou o primeiro nome da avó e o segundo a mãe havia escolhido, aquela menina poderia se chamar Carla, mas acabou por ser Maria Carolina mesmo. Sei, porque me contaram, que era gordinha e tinha olhos fechadinhos, mas infelizmente não temos fotos para registrar.
Os anos foram seguindo, ela foi crescendo, crescendo. Nada mais natural. Foi oradora da formatura da pré escola, em 2000. Os anos não se cansavam de passar... Eu nem me lembro de muita coisa, me contaram tantas vezes histórias assim e minha memória falha justo agora... Tudo bem, sem muitos detalhes posso dizer que ela cresceu, cresceu. As barbies, com o tempo, foram ficando naquela caixa cheia de bagunça por baixo da cama. Em 2007, a tal da Maria deu de se apaixonar, a tal da Maria namorou e, a gente pode dizer com certeza, ela foi feliz. Depois disso, sua vida amorosa foi indo, indo, complicando-se e até arrancando algumas dolorosas lágrimas dela, coitada. Ela, conforme o tempo passou, foi se transformando. Sabe, no próximo dia 19 ela completa 15 anos de idade.... dizem que depois dos quinze a vida voa. Ela já queria ter 30, diz sempre. Ela quer ser feliz. Ela quer tantas coisas... quer ter um sofá preto na sala, quer ter filhos, quer poder abraçar o mundo todo, ela quer ser convidada pelo amor da sua vida para uma xícara de café, ela adora café. Ela espera convites, ansiosa. Convites que, por vezes, nunca chegam, nunca vão chegar. Ela quer que alguém a leve para casa um dia, e que chova muito. Ela quer ter motivos para chorar de alegria. Ela tem lembranças.
Ela se lembra com carinho dos abraços que chegaram nos momentos certos, ela se lembra das brigas, acertos, erros. Ela não tem boa memória, mas ela consegue se lembrar de tudo agora, isso até faz com que algumas lágrimas teimem em cair. Ela chora muito, já foi chamada de chorona diversas vezes, ela não liga.
Ela deita os cabelos curtos no travesseiro e inventa um sonho bom, ela inventa sonhos quando escreve, ela se inventa o tempo todo, ela inventa amores, ela fantasia. Por isso é tão iludida, por isso sofre tanto por amores que duram uma dança. Ela se pergunta, todo o tempo, porque raios esquecem tantas vezes que ela tem um coração. Ela se pergunta sobre tanta coisa. Ela quer ser boa para o mundo, ela quer mudar o mundo, escrever livros, se casar. Sim, ela quer contar até três e jogar as flores para trás. Ela não quer ver a vida passar.
Ela sonha tanto. Talvez seja por isso que sua vida parece tão mentira quando ela acorda. Ela sonha com o príncipe encantado das histórias, com as letras de músicas, com as serenatas. Mas, dia ou outro ela se atreve a acordar, e chora e chora e chora.
Ela é um peixe que pula do aquário todos os dias pela manhã. Ela liga o vídeo-game e joga sem enjoar. Ela quer ser tão adulta e a gente vê, ela não mudou nadinha. No fundo ainda tem três anos e acabou de ganhar uma bicicleta nova.
Mas onde eu quero chegar com tudo isso? Eu quero chegar na parte do quanto eu me orgulho por essa menina, e do quanto eu me orgulho pelas pedras que ela pisa, pelos tombos que ela cai, pelas lágrimas que ela derruba, pelas risadas horrorosas que ela solta, pelos amores mal resolvidos dela. Eu me orgulho por tudo que ela viveu, pelos amigos que conquistou. Eu me orgulho por, de tão pertinho, vê-la chegar aos 15 anos. Eu quero poder parabenizar esta menina hoje, de uma forma adiantada. Parabenizar tudo o que ela fez e foi em vão, tudo que ela fez e valeu a pena. Parabenizar a grande menina que ela se tornou e a pequena menina que, no fundo, ela ainda é. Parabéns Maria, parabéns.
"Andei pra chegar tão longe
Daqui de longe eu olhei pra trás
E foi como ver distante
Eu atravessando os meus temporais"

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